sexta-feira, 20 de abril de 2012

FLORIANÓPOLIS - LOCALIDADE DE SAQUINHO

 
 
Localidade de Saquinho - sul da Ilha (fotos: elaine borges - arquivo)

Saquinho fica no extremo sul da Ilha de Santa Catarina. Chegar lá, na década de setenta, exigia percorrer uma trilha, às vezes íngreme, mas com paisagens deslumbrantes. Lá moravam famílias que nunca tinham ido ao centro de Florianópolis. Naquele tempo, vir ao centro da cidade era uma raridade. Lembro que a Dona Lina, moradora da Lagoa da Conceição e uma das principais personagens do livro Vozes da Lagoa (*) não conhecia Ribeirão da Ilha. Vendo estas fotos em PB, percebe-se que a nossa bela Ilha mudou muito. Tem ainda seu encanto, mas - confesso - tenho saudades daquele tempo.

(*) O Vozes da Lagoa - de Elaine Borges, Bebel Orofino e Suzete Sandin, foi lançado em 1995 e reeditado em 2009 pela Fundação Franklin Cascaes (esgotado) e relembra, através do depoimento de antigos habitantes da Lagoa, de como era a vida naquela localidade nas primeiras décadas do século XX.  

segunda-feira, 16 de abril de 2012

AS DAMAS VOLTARAM

 
 
As Damas da Noite (fotos : elaine borges)

 Acompanhar os momentos em que essa flor abre e mostra toda a sua delicada beleza é sempre uma emoção. Neste ano, a Dama da Noite já apresentou seu belo espetáculo quatro vezes. Na noite de domingo, em um período de seis horas, elas foram abrindo, abrindo e após a meia-noite estavam totalmente abertas, sempre belíssimas. Ao todo, foram dez botões que se abriram quase ao mesmo tempo.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

EM DEFESA DOS ANIMAIS


Embora proibida, a abominável Farra do Boi continua sendo praticada no litoral de Santa Catarina.  Nesta época, sempre lembro ( e já postei aqui) o livro de J.M.Coetzee, A Vida dos Animais (Companhia das Letras). Eis alguns trechos:

 “As pessoas reclamam que tratamos os animais como objetos, mas na verdade tratamos animais como prisioneiros de guerra. Você sabia que quando foram abertos os primeiros zoológicos, os tratadores tinham de proteger os animais dos ataques dos espectadores? Os espectadores sentiam que os animais estavam ali para serem insultados e humilhados, como prisioneiros em uma marcha triunfal. Já promovemos uma guerra contra os animais, que chamamos de caça, embora, na verdade, guerra e caça sejam a mesma coisa... Essa guerra foi travada ao longo de milhões de anos. Só a vencemos definitivamente faz algumas centenas de anos, quando inventamos as armas de fogo. Só quando a vitória foi absoluta é que pudemos nos permitir cultivar a compaixão. Mas a nossa compaixão é muito rarefeita. Por baixo dela existe uma atitude mais primitiva. O prisioneiro de guerra não pertence à nossa tribo. Podemos fazer o que quisermos com ele. Podemos sacrificá-lo aos nossos deuses. Podemos cortar o pescoço, arrancar seu coração, atirá-lo ao fogo. Não existe lei quando se fala de prisioneiros de guerra.”
“Quem diz que a vida importa menos para os animais do que para nós nunca segurou nas mãos um animal que luta pela vida. O ser inteiro do animal se lança nessa luta, sem nenhuma reserva. Quando o senhor - (interlocutor a quem Elizabeth Costello, a personagem do livro, se dirigia (grifo meu) - diz que falta a essa luta uma dimensão de horror intelectual ou imaginativo, eu concordo. Não faz parte do modo de ser do animal experimentar horrores intelectuais: todo o seu ser está na carne viva.”

“Se não o convenci foi porque faltaram às minhas palavras, nesta ocasião, o poder de despertar no senhor a inteireza, a natureza não abstrata e não intelectual do ser animal. É por isso que o incito a ler os poetas que devolvem à linguagem o ser vivo, palpitante; e se os poetas não o comovem, sugiro que caminhe lado a lado com o animal que está sendo empurrado pela rampa na direção do seu carrasco.
O senhor diz que a morte não importa para um animal porque o animal não entende a morte. Isso me lembra um dos filósofos acadêmicos que li para preparar minha palestra de ontem. Foi uma experiência deprimente. Despertou em mim uma reação bastante swiftiana. Se isso é o melhor que a filosofia humana pode oferecer, eu disse a mim mesma, eu preferia ir viver entre cavalos.”
(...) Para mim, um filósofo que diz que a distinção entre humanos e não-humanos depende de você ter a pele branca ou preta, e um filósofo que diz que a distinção entre humanos e não-humanos depende de você saber ou não a diferença entre sujeito e predicado, são muito semelhantes entre si.
“Em geral sou cautelosa quando se trata de excluir alguém. Eu soube de um importante filósofo que simplesmente afirma não estar preparado para filosofar sobre animais com gente que come carne. Não sei se chegaria a esse ponto – francamente não tenho essa coragem -, mas devo confessar que não faria a menor questão de conhecer o cavalheiro cujo livro venho citando. Especificamente, não faria nenhuma questão de me sentar à mesa com ele”.
(...) Minha vida me convenceu de que os limites que encontramos em nossas relações com outros animais refletem não as nossas limitações, como sempre pensamos, mas a visão estreita com que pensamos quem são eles e que tipos de relações podemos ter com eles. “E assim concluo convidando todo mundo que tenha interesse nos direitos dos animais a abrir o coração para os animais à sua volta e descobrir por si mesmos como é fazer amizade com uma pessoa não humana.”

FARRA DO BOI

Proibida por lei, neste ano já foram registradas 93 ocorrências no litoral de Santa Catarina. No ano passado, foram 221 registros, em 2010, 302 bois foram perseguidos, torturados, mortos por essa barbárie praticada em nosso estado.

A PAIXÃO DE CRISTO SEGUNDO TODOS OS HOMENS

 
 
Encenação da Paixão de Cristo na Lagoa ( foto: elaine borges - arquivo)

Há 35 anos era apresentado o espetáculo teatral nas dunas da Lagoa da Conceição, próximo a Avenida das Rendeiras, A Paixão de Cristo Segundo Todos os Homens, pelo grupo de teatro liderado por Rio Apa (*). Era um grande acontecimento. O povo se espalhava nas duas e seguia os atores, alguns deles amadores, apresentando vários momentos da vida e morte de Cristo. Havia muitos figurantes e até mesmo o povo, em algum momento, também interferia.
As várias fases da vida e morte de Cristo eram encenadas em dois dias. Na quinta-feira era a vez dos profetas/atores representarem o Velho Testamento. Na sexta-feira santa o ator no papel de João Batista anunciava a chegada do Messias. O auge do espetáculo ao ar livre acontecia na tarde de sexta-feira. A platéia - sempre se movimentando para acompanhar as cenas - se emocionava ao ouvir o sermão da montanha e mais ainda durante a crucificação.
Apresentado em Florianópolis pela primeira vez em 1977, o espetáculo nas dunas da Lagoa da Conceição foi reencenado mais alguns anos. E, como grande acontecimento teatral, marcou a vida da cidade.

(*) Rio Apa era escritor, poeta, teatrólogo...Morou com a familia (alguns filhos também eram atores) na Lagoa da Conceição. Depois foi morar na praia da Pinheira. Hoje nada sei dele.