quinta-feira, 27 de setembro de 2012

MÚSICA, O PRAZER DE ESCUTAR

 
 
 
 Baby ouvindo música ( fotos: elaine borges - arquivo)

Há dias em que ouvir música é o supra sumo da felicidade. É uma delícia escutar a belíssima Avalon na  voz do Bryan Ferry e seu grupo, o Roxy Music. Na viagem que minha memória me conduz redescubro os sons de Lalo Schifrin. No Tributo à Memória de Marques de Sade (1966), fico encantada com The blues de Johann Sebastian Bach, Old laces, Bossa Antique, Marques de Sade... Vou escutando e me deixando levar. De Egberto Gismonti ouço a delicada Palhaço do album Circense e lembro que amo Ano Zero, do Corações Futuristas. Em busca de belos sons, lembro de My Song, com Keith Jarrett e Jan Garbarek e ainda Innocence, do Personal Mountains. Pensando em Jarrett, escuto pela enésima vez a música que me acompanha há décadas: Köln Concert (principalmente a parte I )...  Dai lembrei do Reunion Cumbre, com o bandoneon do Astor Piazzolla e o sax de Gerry Mulligan e me emociono ouvindo Años de Soledad. Vou ouvindo os sons que transformam e transformaram minha vida, como Pat Metheny e seu grupo. E fico encantada ouvindo Minuano, do album Still Life (talking), Last Train Home, Imaginary Day...

E mais uma vez redescubro que a música é fundamental pra percorrer com mais leveza a estrada da vida que um dia não terá mais saída. Só espero que nesse momento uma belíssima música esteja tocando em meus ouvidos. Se for a Nona Sinfonia do Bethoven, melhor ainda.

domingo, 23 de setembro de 2012

PRATICANDO O EXERCÍCIO DA PACIÊNCIA


                          Lagoa da Conceiçao ( fotos: elaine borges)

Quem mora na Ilha de Santa Catarina já sabe, basta aumentar a temperatura e as praias começam a ser invadidas por moradores, turistas, vendedores ambulantes, músicos, os inevitáveis cachorros sem dono... Neste sábado, na Lagoa da Conceição, as filas de carros circulando lentamente ao longo da Avenida das Rendeiras, indicavam que está aberta a temporada de verão. No Retiro da Lagoa, as típicas cenas desta época se sucediam: criancinhas sentadas na grama debaixo das árvores, solitários observando a paisagem, restaurantes lotados com músicos tocando muito alto (um suplício para os moradores) suscitavam uma constatação: foi-se o inverno (e tivemos inverno?). E para nós, simples habitantes da Ilha, a partir de agora, passamos a praticar o exercício da paciência. Paciência para enfrentar os engarrafamentos. Paciência para conviver educadamente com os turistas. Paciência para enfrentar filas nos restaurantes. Paciência para fazer compras nos super-mercados ( e perceber que tudo encareceu absurdamente)... Haja paciência! É o preço que se paga por optar morar numa Ilha tão linda.Tão linda que muitos que nos visitam decidem aqui morar. Eu sou uma delas.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

BRINCANDO DE POESIA

 
 


Santo Antonio de Lisboa ( fotos: elaine borges - arquivo)

CONVITE

Jose Paulo Paes
(1926/1998)

Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.

Só que
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.

As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.

Como a água do rio
que é água sempre nova.

Como cada dia
que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?



SONHO DESFEITO

A MARCHA DAS UTOPIAS

José Paulo Paes
(1926/1998)

não era esta a independência que eu sonhava
não era esta a república que eu sonhava
não era este o socialismo que eu sonhava
não era este o apocalipse que eu sonhava

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

ENTARDECER EM FLORIANÓPOLIS

 
 Ponte Hercílio Luz ( foto: elaine borges)

Terminou assim o dia hoje em Florianópolis, com um céu lindo, embelezando ainda mais a ponte Hercílio Luz.  

A MAJESTOSA GARAPUVU

 
(*) Garapuvu (foto: elaine borges)

ÁRVORES NO QUINTAL
Manoel de Barros
Senhor, ajudai-nos a construir a nossa casa
com janelas de aurora e árvores no quintal.
Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores
e ao crepúsculo fiquem cinzentas como a roupa dos pescadores.

(*)  A majestosa garapuvu, árvore símbolo de Florianópolis ( lei municipal 3.771, de 15/06/1992), chega a atingir 30 metros de altura. Nativa da mata atlântica, suas árvores se espalham nos morros, nas matas e, a partir de outubro, começam a florescer, exibindo lindas flores amarelas. O tronco também é usado por pescadores para construção das canoas.  

domingo, 16 de setembro de 2012

A PRIMAVERA CHEGANDO

 
 
 
Orquídeas olho-de-boneca e véu-de-noiva (fotos: elaine borges)

É bonito ver as flores surgindo em vários cantos do jardim. Há alguns dias o tronco de uma pequena árvore está todo enfeitado de orquídeas olho-de-boneca. Ao lado, as delicadas véu-de-noiva se equilibram em finos galhos. É a primavera chegando.

domingo, 9 de setembro de 2012

LEITURAS NO FERIADÃO

 
(*)Pombinha no telhado (foto: elaine borges)

No feriadão o que se faz? No meu caso, fazendo o que mais gosto: lendo, vendo filmes, folheando jornais... E foi lendo a Ilustríssima da Folha de hoje que descobri um escritor russo chamado Ivan Gontcharóv (1812-92). O título da matéria é bem apropriado: "Não saia da cama no feriadão". Eu que cultivo a preguiça, melhor conselho não há. Não o segui à risca, preferi ficar na minha poltrona predileta, lendo exatamente o texto do escritor russo.
Oblómov, personagem que dá título ao livro (a ser lançado em outubro pela Cosac Naify) passa o tempo todo deitado decidindo se iria levantar para tomar providências necessárias pois sua colheita havia fracassado, sua renda diminuído...  Oblómov tentou sair da cama, mas " continuou deitado por mais meia hora, atormentando-se com aquela intenção, mas depois considerou que ainda teria tempo de fazer aquilo após o chá e que poderia muito bem tomar o chá como de costume na cama, tanto mais porque nada o impedia de pensar e continuar deitado. Assim fez. Depois do chá tratou de baixar as pernas e quase se levantou; lançou um olhar para os sapatos e até começou a esticar um pé na direção do sapato junto à cama, mas logo em seguida recuou".
Lendo esse trecho do livro do Ivan Gontcharóv que, segundo li, pertenceu "à geração literária de Gógol, anterior a Tolstói e Dostoiévski" já antecipo que ele fará parte das minhas futuras leituras.

(*) A foto acima nada tem a ver com o texto. É apenas um "enfeite".

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

LOLA NA SALA



Lola, a bela collie ( foto: elaine borges)

Ontem à tarde a Lola preferiu ficar aí, neste espaço da casa, aproveitando os raios do sol que entravam pela janela.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

FORMA DE VIVER

 
 
 
Pássaros ( fotos: elaine borges)

É possível explicar por que escrevemos? O que acontece em nosso cérebro para escolher aquela palavra e não outra para escrever a frase e tornar claro o pensamento? E por que fotografamos? Em que momento dá o "clic" lá no cérebro e rapidamente apontamos a câmera para determinado objeto, animais, pessoas, paisagens...? Como sabemos que é aquele o momento exato e não outro?  E como explicar a tristeza que sentimos quando a imagem está ali, basta colocar a câmera na frente dos olhos, enquadra-la, apertar obturador e...cadê a câmera? Há quem diga que nossa melhor foto é aquela que não registramos. E a imagem perdida nunca mais sairá da nossa memória. Talvez quem melhor definiu o ato de fotografar foi o genial Henri Cartier-Bresson que disse: "fotografar é uma questão de pôr o cérebro, o olho e o coração na mesma linha de visão. É uma forma de viver.”

AS CIDADES E A MEMÓRIA

 
 
Ribeirão da Ilha ( fotos: elaine borges)
AS CIDADES E A MEMÓRIA

Italo Calvino (*)

Em Maurília, o viajante é convidado a visitar a cidade ao mesmo tempo em que observa uns velhos cartões-postais ilustrados que mostram como esta havia sido:a praça idêntica mas com uma galinha no lugar da estação de ônibus, o coreto no lugar do viaduto, duas moças com sombrinhas brancas no lugar da fábrica de explosivos. Para não decepcionar os habitantes, é necessário que o viajante louve a cidade dos cartões-postais e prefira-a à atual, tomando cuidado, porém, em conter seu pesar em relação às mudanças nos limites de regras bem precisas: reconhecendo que a magnificência e a prosperidade da Maurília metrópole, se comparada com a velha Maurília provinciana, não restituem uma certa graça perdida, a qual, todavia, só agora pode ser apreciada através dos velhos cartões-postais, enquanto antes, em presença da Maurília provinciana, não se via absolutamente nada de gracioso, e ver-se-ia ainda menos hoje em dia, se Maurília tivesse permanecido como antes, e que, de qualquer modo, a metrópole tem este atrativo adicional – que mediante o que se tornou pode-se recordar com saudades daquilo que foi.
Evitem dizer que algumas vezes cidades diferentes sucedem-se no mesmo solo e com o mesmo nome, nascem e morrem sem se conhecer, incomunicáveis entre si. Às vezes, os nomes dos habitantes permanecem iguais, e o sotaque das vozes, e até mesmo os traços dos rostos: mas os deuses que vivem com os nomes e nos solos foram embora sem avisar e em seus lugares acomodaram-se deuses estranhos. È inútil querer saber se estes são melhores do que os antigos, dado que não existe nenhuma relação entre eles, da mesma forma que os velhos cartões-postais não representam a Maurília do passado mas uma outra cidade que por acaso também se chamava Maurília.

(*) Do livro "As Cidades Invisíveis" (Companhia das Letras)