sábado, 21 de setembro de 2013

O PASSARINHO E O MENINO-ÁRVORE

 
 
 
Pombinha rola, beija flor, árvores... ( fotos: elaine borges)

PASSARINHOS E AS ÁRVORES

Manoel de Barros 

Um passarinho pediu a meu irmão para ser sua árvore.

Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.

No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de

sol, de céu e de lua mais do que na escola.

No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo

mais do que os padres lhes ensinavam no internato.

Aprendeu com a natureza o perfume de Deus

seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul

E descobriu que uma casa vazia de cigarra esquecida

no tronco das árvores só serve pra poesia.

No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas.

Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara,

envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros

e tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos brejos.

Meu irmão agradecia a Deus aquela permanência em árvore

porque fez amizade com muitas borboletas.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

AS CORES E OS POETAS

 
 
 
As cores do céu  ( fotos: elaine borges)

A Casa das palavras (1)

Na casa das palavras, sonhou Helena Villagra, chegavam os poetas. As palavras, guardadas em velhos frascos de cristal, esperavam pelos poetas e se ofereciam, loucas de vontade de ser escolhidas: elas rogavam aos poetas que as olhasse, as cheirassem, as tocassem, as provassem. Os poetas abriam os frascos, provavam palavras com os dedos e então lambiam os lábios ou fechavam a cara. Os poetas andavam em busca de palavras que não conheciam, e também buscavam palavras que conheciam e tinham perdido.
Na casa das palavras havia uma mesa das cores. Em grandes travessas as cores eram oferecidas e cada poeta se servia da cor que estava precisando; amarelo-limão ou amarelo-sol, azul do mar ou de fumaça, vermelho-lacre, vermelho-sangue, vermelho-vinho...


(1)    Eduardo Galeano  - O Livro dos Abraços – LPM Editora.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

REFLEXÕES SOBRE A FRAGILIDADE DO CORPO

... e o Ipê na Lagoa floriu (foto: elaine borges)
Aos poucos, levanto meu corpo , seguro na borda da cama, e dou pequenos passos em direção ao banheiro. Olho meu rosto no espelho, levanto os braços, percebo que meus dedos das mãos estão bem mais finos, minhas pernas, mais frágeis. Caminho devagar. Subo as escadas segurando o corrimão. Na rua, me perguntam: '' aquela é sua filha? " É minha irmã. A doença, quando chega e custa a ir embora, causa mudança profundas no corpo. E, dependendo do tempo em que atinge seu físico, a fragilidade aumenta. Mas então vem a surpresa, a boa surpresa: a mente, o raciocínio, não são afetados pela dor que às vezes é quase insuportável. Há, sim, uma certa lerdeza. Ler continua sendo um grande prazer, mas as letrinhas, se forem miúdas, exigem mais paciência na leitura. Dependendo  do livro ou da revista, por enquanto alguns estão na pilha que todos que gostam de ler, costumam ter. Uma delas é a revista Piauí. Seus textos enormes, com letras miudinhas, exigem de mim muito esforço. Nada de livros com temas tristes, trágicos... Estes também estão na pilha que ultimamente está cada vez maior. Entre as alegrias, nos dois últimos dias um livrinho que passaria despercebido na banca, não fosse a amiga Gise me emprestar exatamente no momento em que eu estava meio down. O autor:  John Kennedy Toole. O livrinho: Uma Confraria de tolos. Já nos primeiros parágrafos, comecei a rir. A Gise já tinha avisado :"é hilário!" E é mesmo. Quando lançado, o The New York Times disse ser de uma "inventividade surpreendente". Naquele ano, 1981, ganhou o Prêmio Pulitzer.
Há mais para escrever sobre tão saborosa leitura. Mas cansei. Essa é a primeira vez que retorno ao blog. E ontem também fotografei o belo Ipê que floresceu cá no jardim da casa da Virgínia. Um bom recomeço, espero. Enquanto isso, vou tentando reforçar os músculos ( ainda tenho?), superar as dores, ficar mais firme, equilibrada, para continuar a curtir a vida que a mim me foi dada e que sempre agradeço.