quinta-feira, 18 de junho de 2009

TEORIA DEBILÓIDE E SAFADA

"Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum". Vejam só. Descobrimos agora, na frase acima dita por Lula, que o que diz a Constituição - "todos são iguais perante a lei" - não vale para o Sarney. Ele não é uma pessoa comum. Lula defendeu Sarney lá no Casaquistão. Daí lembrei das tantas vezes que o antigo Lula, aquele líder operário, criticava duramente Sarney e sua turma ("o Congresso é composto de 300 ladrões", lembram?).
Transcrevo abaixo a coluna do Clóvis Rossi de hoje na Folha. Ele tem mais autoridade do que eu pra manifetar sua indignação. Que é também a minha.

Lula Culpa O Espelho

Clóvis Rossi

Alguma surpresa com a defesa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez do senador José Sarney? Quem pediu desculpas pelos "erros" cometidos pelo seu partido (na verdade, crimes), mas depois passou a mão na cabeça dos "errados", quem se aliou a Fernando Collor de Mello, único presidente punido por falta de decoro, não poderia deixar de solidarizar-se com Sarney.
O que surpreende é a escandalosa indigência dos argumentos usados por Lula.
Primeiro argumento: "Ele tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum". Que besteira é essa, Deus do céu? É a versão Lula do "sabe com quem está falando?". Com história ou sem história, todo cidadão tem de ser tratado da mesma maneira. E os que têm história devem comportar-se ainda melhor do que os que não têm. Afinal, para usar um lugar-comum tão ao gosto de Lula, "o exemplo vem de cima".
Segundo argumento: um suposto interesse em "enfraquecer o Poder Legislativo". Outra bobagem sem tamanho.
O que enfraquece o Poder Legislativo não são as denúncias, mas os fatos que dão origem às denúncias. Sem eles não haveria denúncias. O Poder Legislativo, como os demais, só se fortalece se corrige os desmandos e abusos denunciados. Omissão é que o enfraquece. Lula, no fundo, revisita a teoria debiloide e safada da conspiração que não houve contra ele. Houve apenas uma conspiração dos fatos. Tanto que ele foi obrigado a pedir desculpas. Tanto que o procurador-geral da República denunciou toda a cúpula do PT como "quadrilha".
É, enfim, a velha tentação de toda pessoa investida de poder de culpar o espelho pela imagem que ele mostra. A favor de Lula diga-se que ele ao menos pediu desculpas, coisa que Sarney nem remotamente passou perto de fazer.

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