Minha Hermes Baby - foto: elaine borges
Quando aqui cheguei, trazia como instrumento de trabalho minha pequena Hermes Baby. Uma maquininha cujas teclas macias me ajudavam na busca da palavra mais exata, da frase menos rebuscada, da clareza do texto. Na bagagem, trazia também algumas laudas. Não me preocupei em trazer rolos de fitas. Sabia que aqui encontraria facilmente. Minha maquininha sempre fez parte da minha bagagem. Em um braço carregava a mochila, no outro, a maquininha . Hoje, faltando poucas horas para o grande encontro com antigos e amados colegas, quis rever minha maquininha. Lá estava ela sobre um móvel que supostamente é também antigo mas não passa de uma imitação dos rádios de antanho. Os dois formam um belo conjunto e remetem ao passado.
Quis abrir a tampa da pequena Hermes Baby mas - tristeza - está tão enferrujada que não consegui. Queria, mais uma vez, tentar deslizar meus dedos sobre as teclas. Até o momento que a fechei definitivamente, a tampa ainda abria e eu, às vezes, batia com suavidade nas teclas e, também pra minha alegria, todas as letras estavam ali, o z, x, u, y, t, o... todas alinhadas em seus devidos lugares. Nas redações, às vezes as letras mais teimosas saltavam das potentes Olivettis, o que exigia um certo sacrifício e muitas dores nos dedos para teclar as finas pontas de metal onde antes estavam as letras.
Pensei em também abrir minha caixa de fotos. Mas seria uma busca cansativa. Não sou organizada e levaria muito tempo, ameaçando me atrasar para um importante encontro. E é este o principal motivo que me levou a tentar abrir minha Hermes Baby: hoje, jornalistas que trabalharam no mais antigo, o jornal O Estado, vão se encontrar num jantar. É o encontro dos Dinossauros, jornalistas que como eu, trabalharam no jornal mais antigo de Florianópolis e que, melancolicamente, não mais existe.
Lá encontrarei os queridos colegas Orestes Araujo, Vana Goulart, Ivani Borges, Lourival Bento, Mario Medaglia, Raul Sartori e tanto outros. São muitos, centenas, num momento de muita confraternização, de emoções, lembranças, saudades de um tempo bom, mas com alguns percalços.
Houve, lembro bem, momentos de desconfiança, de gente chegando de fora e "ameaçando" os jornalistas que aqui moravam. Pura bobagem hoje (espero) superadas. A década (setenta)era de repressão, censura, e suscitava questionamentos ("serão eles comunistas?"). Foi também a década que marcou o primeiro movimento grevista dos jornalistas: Airton Kanitz, convidado para determinado cargo não teve a promessa cumprida pela chefia de O Estado. Resultado: os novatos, os "gaúchos" recem chegados, resolveram não trabalhar. Lembro bem, foi num tarde de sábado de 1972. Foi o primeiro "parem as máquinas" dos jornalistas de Santa Catarina.
São fatos que fazem parte da memória da imprensa catarinense. Fatos, como outros, que certamente serão lembrados no jantar dos Dinos.
Assim como quis abrir minha pequenininha Hermes Baby (meu "laptop" da época) sei que meus colegas e amigos também lembraram do passado, foram no baú de memórias. E no reencontro deste sábado lá estarão reunidos àqueles que já fazem parte da história da imprensa de Santa Catarina. Não a história dos donos das máquinas, dos empresários, dos patrões, mas daqueles que ajudaram a preencher laudas (era assim naquela época: laudas, papel, telex, telefoto...) e mais laudas registrando o dia-a-dia de um Estado, de um País e que acabam virando História através das folhas do jornal. Um jornal que hoje não existe, sumiu, assim como seus arquivos, jogados no lixo de um prédio abandonado onde antes era a redação do que já foi o mais importante jornal de Santa Catarina, O Estado.
Oh! Elaine!!! Lindo!!!! Me arrepiei lembrando aquela época. Realmente importante para nós, nos trouxe experiência e a descoberta de pessoas tão importantes e queridas como tu.
ResponderExcluirTexto maravilhoso e emocionante, do jeitinho Elaine Borges. Foi um prazer te ver na Festa dos Dinossauros, pois você é parte importante da história do jornal O Estado e do jornalismno de Santa Catarina. Valeu.
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