Ipês na Lagoa da Conceição (foto: elaine borges)
Pronto, acabou o período de silêncio. Voltei. Não que nesse período não tivesse "escrito" mentalmente muitos textos cá na minha cachola. Muitas vezes o texto já estava prontinho. Só faltava o gesto decisivo: sentar na frente do computador e teclar. Mas não sei que forças estranhas me impediam de fazer o gesto necessário: teclar, teclar e se deixar levar por aquele impulso inexplicável que só quem escreve entende. Uma vez escrevi um texto que começava assim: "Hoje vi um beija flor paradinho num fino galho seco de uma árvore bem ao lado da sacada onde eu estava. Olhei e sabia que a cena era unica. Eu não mais veria um pequenino passarinho, ali, virando o bico e, em segundos, alçar vôo. Pensei em pegar minha câmera para registrar aquele momento que sabia ser raro. Desisti. O movimento do meu corpo espantaria o bichinho. Curti o momento que nunca mais se repetiria".
Outro texto que "escrevi" era sobre os setentões famosos e os nem tanto: Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Paulinho da Viola... Daí lembrei que tinha umas fotos em PB de um deles, Gilberto Gil. As fotos foram feitas no início da década de 70, quando Gil foi a Porto Alegre e deu uma longa entrevista ao Juarez Fonseca, repórter da Zero Hora. Eu e alguns amigos conseguimos - com certa insistência - acompanhar o encontro em um hotel da capital gaúcha. Lembro dos gestos do Gil, sua postura, sua fala mansa. Não me perguntem o que ele disse. Não me fixei muito na sua fala mas sim nos seus gestos, no movimento dos braços, das mãos... Lembro que ele movimentava tanto os braços que parecia que iriam se transformar em asas e dali voaria através da janela. Foram esses movimento que tentei captar com minha câmera.
Mas o que eu queria escrever era sobre o tempo: setenta anos. E percebi que todos são meus contemporâneos (estou quase lá) . Nossa juventude foi vivida na década de sessenta. Conheço pessoas que tem saudades dessa década, embora tenham nascido muito depois. E com certa razão. Temos uma rica história para contar. Nas rádios, nos toca discos (ainda curto os discos de vinil) ouvíamos Beatles, Rolling Stones, Paul Simon, Nina Simone... Nos cinemas víamos Bergman, Fellini, Monicelli, Leone, Resnais, Godard, Terra em Transe, Vidas Secas... Percorríamos distâncias na base da carona sem medo de assaltos. Tínhamos uma fé cega de que o mundo mudaria e seria bem mais fraterno. E chegaria o dia em que o homem desfilaria com "um girassol na lapela" como dizia Thiago de Melo no Estatuto dos Homens. Santa esperança. Houve um dia que ouvíamos as músicas do Gil, Caetano, Milton, e tantos outros com o coração leve.
PS: Se não mais escrevi, continuei e continuo tentando captar o mundo que me cerca através da fotografia. E o elogio do Orlando Tambosi ( sobre a foto da collie, a linda Lola olhando a paisagem) me deixou imensamente envaidecida. Obrigada caro colega.
Pronto, acabou o período de silêncio. Voltei. Não que nesse período não tivesse "escrito" mentalmente muitos textos cá na minha cachola. Muitas vezes o texto já estava prontinho. Só faltava o gesto decisivo: sentar na frente do computador e teclar. Mas não sei que forças estranhas me impediam de fazer o gesto necessário: teclar, teclar e se deixar levar por aquele impulso inexplicável que só quem escreve entende. Uma vez escrevi um texto que começava assim: "Hoje vi um beija flor paradinho num fino galho seco de uma árvore bem ao lado da sacada onde eu estava. Olhei e sabia que a cena era unica. Eu não mais veria um pequenino passarinho, ali, virando o bico e, em segundos, alçar vôo. Pensei em pegar minha câmera para registrar aquele momento que sabia ser raro. Desisti. O movimento do meu corpo espantaria o bichinho. Curti o momento que nunca mais se repetiria".
Outro texto que "escrevi" era sobre os setentões famosos e os nem tanto: Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Paulinho da Viola... Daí lembrei que tinha umas fotos em PB de um deles, Gilberto Gil. As fotos foram feitas no início da década de 70, quando Gil foi a Porto Alegre e deu uma longa entrevista ao Juarez Fonseca, repórter da Zero Hora. Eu e alguns amigos conseguimos - com certa insistência - acompanhar o encontro em um hotel da capital gaúcha. Lembro dos gestos do Gil, sua postura, sua fala mansa. Não me perguntem o que ele disse. Não me fixei muito na sua fala mas sim nos seus gestos, no movimento dos braços, das mãos... Lembro que ele movimentava tanto os braços que parecia que iriam se transformar em asas e dali voaria através da janela. Foram esses movimento que tentei captar com minha câmera.
Mas o que eu queria escrever era sobre o tempo: setenta anos. E percebi que todos são meus contemporâneos (estou quase lá) . Nossa juventude foi vivida na década de sessenta. Conheço pessoas que tem saudades dessa década, embora tenham nascido muito depois. E com certa razão. Temos uma rica história para contar. Nas rádios, nos toca discos (ainda curto os discos de vinil) ouvíamos Beatles, Rolling Stones, Paul Simon, Nina Simone... Nos cinemas víamos Bergman, Fellini, Monicelli, Leone, Resnais, Godard, Terra em Transe, Vidas Secas... Percorríamos distâncias na base da carona sem medo de assaltos. Tínhamos uma fé cega de que o mundo mudaria e seria bem mais fraterno. E chegaria o dia em que o homem desfilaria com "um girassol na lapela" como dizia Thiago de Melo no Estatuto dos Homens. Santa esperança. Houve um dia que ouvíamos as músicas do Gil, Caetano, Milton, e tantos outros com o coração leve.
PS: Se não mais escrevi, continuei e continuo tentando captar o mundo que me cerca através da fotografia. E o elogio do Orlando Tambosi ( sobre a foto da collie, a linda Lola olhando a paisagem) me deixou imensamente envaidecida. Obrigada caro colega.
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