quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

AVISO DO CÉU

"O governador Luis Henrique faz o possível para ser lembrado como o político que passou para o sucessor um estado de calamidade pública"

A frase é do Marcos Sá Correa, jornalista e editor da revista Piauí , publicada na edição desta semana da revista IstoE que transcrevo:

ESSA CHUVA PODE SER AVISO DO CÉU

O governador de Santa Catarina, Luís Henrique da Silveira, finalmente se convenceu de que anda à solta por aí uma tal de desordem climática. Foi ela, pelo menos, a desculpa que o acudiu para definir o tipo de tragédia que derreteu encostas no Estado e matou dezenas de pessoas. É, governador, essas coisas acontecem.


Talvez sejam em vasta medida inevitáveis. Mas tendem a pegar mais pesado quem estava desprevenido. E, se estiver interessado em conferir o que quer dizer isso, pode folhear o Código Estadual de Meio Ambiente, que sob seu patrocínio está secando, mesmo debaixo de chuva, a caminho da Assembléia Legislativa.

Ele foi saindo cada vez mais torto, à medida que passava por audiências públicas. Pegou o mesmo tipo de resistência que, três anos atrás, defendeu Santa Catarina da criação de parques nacionais em lugares ainda abençoados por florestas de araucárias. Armou-se de dispositivos estranhos, senão agourentos, como a aprovação automática das licenças ambientais, se em 60 dias os técnicos não derem sua palavra final sobre projetos.

Tende a ser uma lei dura. Mas só é dura com aquilo que o governador já chamou na tevê de "oposição meio ambiental". Pode ser coincidência, mas o rascunho está cada vez mais parecido com suas idéias, e, principalmente, com suas idiossincrasias.

Mesmo com a chuva caindo, ele riscou qualquer menção à "vida aquática", na parte referente aos "recursos hídricos". Pois é, trata-se de abrir alas à construção de hidrelétricas. Ele nunca engoliu os argumentos que o impediram de autorizar, como queria, quando prefeito de Joinville, a instalação de uma usina na serra catarinense. E acredita, ou professa, que toda precaução é um instrumento do "medievalismo".

Como nunca esclareceu exatamente o que quer dizer com essa palavra, presume-se que não se trate da Idade Média original, a européia, marcada pela eliminação quase total das florestas no continente, pela transformação dos rios em esgotos fedorentos e por uma guerra milenar contra a fauna silvestre.

O europeu do século XX também se distingue de seus antepassados medievais por ter mais árvores. Ou pela prerrogativa de pescar em rios límpidos no centro de Estocolmo. E até por não dar mais a seus políticos o direito de fazer em público as declarações que o governador faz em entrevistas. Muito menos de governar um Estado que é recordista nacional de devastação da mata atlântica, em nome do "aproveitamento sustentável da natureza" e da ojeriza à "obtusidade".

Não adianta apontar para o céu. As chuvas podem fazer grandes estragos, mas dão e passam. Como nenhuma chuva chove dois mandatos, quase sempre há tempo de sobra para apagar os sinais deixados por sua passagem antes que venha a inundação seguinte. E as obras feitas aqui embaixo tendem a durar mais do que as pessoas que as deixaram.

E, na batida em que vai, o governador Luís Henrique está fazendo o possível para ser lembrado como o político que tomou posse de um Estado invejado nacionalmente pela beleza natural e passou para o sucessor um estado de calamidade pública.

Um comentário:

  1. Oi Eliane
    Só agora vi que mudou seu blog.
    Estamos muito entristecidos com toda a tragédia. Espero que a chuva realmente pare e que essas pessoas consigam reconstruir suas vida.
    A mobilização em São Paulo é grande. Ontem mesmo fomos na Cruz Vermelha levar doações e lá está repleto de alimentos, roupas para serem levadas para aí.
    Tudo de bom para vc!
    Abraços,
    Michelle.

    ResponderExcluir