quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

MANDELA - O INVICTUS

Há um poema de William E. Henley (1849/1903) que Nelson Mandela lia sempre na prisão. Foram os versos daquele poema que o ajudaram a resistir ao sofrimento por 27 anos até obter a liberdade, em 11 de fevereiro de 1990. Portanto, hoje comemoramos os 20 anos de sua liberdade. Madiba, como é conhecido na África do Sul, está com 92 anos. É um homem frágil, cuja memória às vezes falha. Mas nunca será esquecido. Dedicou sua vida à luta contra o domínio branco na África do Sul, que negava aos negros direitos políticos, sociais e econômicos. Defendeu a resistência armada contra o apartheid e, na clandestinidade, fundou, em 1961, a ala armada do Congresso Nacional Africano – a Lança da Nação (“Umkhonto we Sizwe”). Réu, ao ser julgado, disse: “Tenho defendido o ideal de uma sociedade democrática e livre na qual todas as pessoas convivam em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e que espero alcançar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer”.

Clint Eastwood fez um filme que mostra o esforço de Mandela, já presidente da África do Sul (1994/1999), em unir o país através do esporte, o rúgbi. O início do filme mostra bem a separação entre negros e brancos: de um lado, em um campinho de terra, meninos negros jogando futebol. Ali perto, brancos jogando rúgbi. Mandela percebeu que, unindo todos na mesma torcida para que a África do Sul ganhasse o campeonato mundial de rúgbi, uniria também a Nação, diminuindo as diferenças entre negros (maioria da população) e brancos. Era uma tentativa de amenizar os conflitos inter-raciais. O título do filme vem do poema Invictus, de William E. Henley, cujas duas últimas estrofes são ditas por Morgan Freeman - ator que personifica Mandela (que pediu ao ator que o representasse no filme):

Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus – se algum existe,
Por minha alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei – e ainda trago
Minha cabeça – embora em sangue - ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa:
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Embora a África do Sul hoje seja um país democrático, ainda enfrenta sérios problemas de pobreza, desigualdade e desemprego. A partir de 11 de junho a África do Sul sediará a Copa do Mundo. Mandela foi um dos principais defensores para que seu país fosse a sede da Copa do Mundo de Futebol. Veremos cenas memoráveis, tenho certeza. No ano em que são comemorados 20 anos da libertação de Mandela, seu país, a África do Sul, vai receber jogadores, torcidas, autoridades, turistas, do mundo inteiro. Será um grande evento esportivo, mas também um grande desafio para um país cheio de contrastes e conflitos. Agora é torcer para que nada ocorra que possa manchar a imagem de um país sofrido. Que tudo seja mesmo uma grande festa. A África do Sul tem uma dívida para um homem: Madiba, o Mandela que sempre lutou pela igualdade entre os homens.

E para quem ainda não viu, sugiro: vá ver Invictus.

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