fotos: elaine borges
Sabe aquele momento em que, de repente, vem à nossa mente aquele gosto do bolo de milho, com uma textura única, sabor inigualável, e que se tornava mais saboroso quando sorvido com suaves goles de café com leite? Nossa memória olfativa ou gustativa às vezes nos leva a esses momentos. São os paladares da infância, dos cheiros, gostos, sabores de comidas simples, como daquela carne assada na panela de ferro, do arroz com galinha... E os doces, então! O inigualável sabor da ambrosia, do arroz doce, da compota de pêssego, de laranja? Cada colherada desses doces era como se fosse a maior iguaria enviada pelos deuses que habitam os cantos das cozinhas cuja autoridade maior ora eram nossas avós, ou mães, ou tias, nunca os homens. Esses eram responsáveis pelos trabalhos mais pesados, do campo, da faina do dia-a-dia.
O parágrafo acima escrevi em janeiro no ex-blog Jornalistas de Bobeira, para comentar o livro que lia na época: A morte do gourmet, de Muriel Barberry (Cia das Letras). São as memórias de um gourmet agonizante que tenta relembrar o gosto, o sabor de algo que comeu na infância.
Pois nesse último fim-de-semana, almocei várias iguarias que me levaram à infância, à memória degustativa. Lá, ao longo da BR-101, em Tijucas, após o último pedágio antes de chegar à Florianópolis, há um lugarzinho simples, cuja placa indica que servem café colonial. Basta entrar para descobrir que ali reina Dona Joana, a cozinheira. É ela e sua família (nora, genro, filhos...) que nos recebem logo à entrada. É Dona Joana que cozinha aquela variedade de sabores expostos nas panelas colocadas no grande fogão à lenha, lembrando mais um forno. São panelas com aipim cozido, dobradinha, batata doce, feijão, carne assada, doce de moranga (pedaços de abóbora com casca cobertos com uma calda de açúcar previamente cozidos)... Ao lado do fogão, outra tentação: doces, bolos, pastéis... E, pra terminar, um café fumegante mantido aquecido nos grandes bules colocados no centro do fogão.
Minha sensação, ao mastigar pedaços de aipim, batata doce, enfiar o garfo na moranga e sentir a maciez e a doçura da abóbora, foi de que minha memória degustativa havia sido acionada. E logo lembrei que a cozinha sempre foi o grande reduto de minha vida. Não para cozinhar (que não sei), mas foi o recanto mais acolhedor da casa onde vivi ouvindo histórias, conversando, sentindo o calor que emanava do fogão à lenha ornado de panelas com iguarias várias: aipim, batata doce, às vezes bolo de milho, arroz doce...
Oi Elaine. Li teu texto com água na boca. Passei por lá algumas vezes e nunca entrei. To indo qualquer dia, bela dica, bjs
ResponderExcluirOi Elaine!
ResponderExcluirNossa que comida deliciosa deve ser essa!!! Já acabei de falar para o Gui que precisamos conhecer esse lugar! Adoro comida feita no fogão à lenha. Em São Paulo, meu paizinho construiu em nossa antiga casa. Adorei seu texto.
beijos, michelle.
Elainíssima.
ResponderExcluirAlém de instigar por imagens, estou com fome...
Um bom abraço.
nane, que delícia!
ResponderExcluirque ótima parada durante a viagem, quero ir lá também...
beijos saudosos,
lenina.