Praça XV - Vento Sul ( foto: elaine borges - arquivo)
Quantas Florianópolis há na memória de cada um que aqui
nasceu, que escolheu a cidade para morar ou que aqui passou bons momentos de
suas vidas? Há a Florianópolis de quem nasceu “na metade do século passado” e
tem em sua memória imagens de um tempo em que na Ilha se vivia “na
tranquilidade absoluta”. Tempo em que “podia-se atravessar as ruas do centro
lendo um jornal. Os carros eram objeto de muito luxo”. Os ônibus trafegavam
devagar e, dependendo da amizade que se estabelecia com o motorista, o passageiro
era deixado na porta de sua casa (não havia quase prédios de apartamentos).
“Seu” Lira era um dos motoristas mais gentis.
Ah, os namoros, o “footing” na calçada do Palácio do Governo,
na Praça XV, quando, nas tardes de domingo, “os moços ficavam observando as
moças que, de braços dados, andavam de uma esquina à outra”. Outros pontos de
namoros, de encontros fortuitos: a pracinha da Praia de Fora, a rua Bocaiuva,
em frente ao Bar do Katsipis. Naquela região, a paquera era com os estudantes
internos do Colégio Catarinense.
Havia também as “tardes dançantes” e, aos sábados, cinema ao
ar livre. As “tardes dançantes” aconteciam nas casas dos amigos. Moças e
rapazes se reuniam para ouvir e dançar ao som dos discos de vinil dos ídolos
mais amados da época: Elvis Presley e o “Blue Suede Shoes”, “Heartbreak Hotel”,
ou Bill Haley e seus Cometas com o “Rock Around the Clock”... "Rock and Roll era o
nosso ritmo." Nos sábados, a Produtora Carreirão erguia telas nas pracinhas e
“nos divertíamos vendo filmes diversos”. Namorava-se também nas matinés dos
cines Ritz e São José. Na saída do cinema, era hora de saborear as vitaminas de
frutas, ou sorvetes, nas lanchonetes da rua Felipe Schmidt. Antes das 18 horas, hora de voltar pra casa.
Época também dos grandes carnavais, dos blocos de sujos, dos
carros alegóricos. Tudo ao redor da Praça XV.
“O grande momento era o encontro dos blocos dos clubes Lira e XII, ao
amanhecer da quarta-feira de cinzas. Era uma maravilha, dançávamos em frente à
Catedral e, apesar dos protestos dos padres, o carnaval continuava."
Pode parecer estranho hoje, mas “dava-se as costas ao mar”.
As casas eram construídas de frente para as ruas e, atrás, nos portões dos
quintais, estava o mar à disposição das crianças, dos pescadores... “Pais e
filhos divertiam-se pescando, colhendo ostras no trapiche, empurrando siris
para a areia com uma palha de coqueiro ou, simplesmente, passeando na beira da
praia, onde hoje é a Avenida Beira Mar Norte”.
E hoje, para quem curtiu o auge de sua juventude naquele
tempo, vê a Ilha perdendo sua magia. Inevitável não citar o caos no trânsito,
as praias poluídas (cadê os siris que eram tirados do mar apenas com folhas de
coqueiros, ou as ostras raspadas nas pedras?), os assaltos, a violência.
Lembrar a falta de saneamento básico, a ocupação desordenada dos espaços... Impossível não sentir saudade da “tranquilidade absoluta” daquele tempo. Quem nasceu ("na metade do século passado"), viveu o auge
da juventude nas décadas de 50 e 60, tem a exata noção de quanto Florianópolis mudou.
E reclama: “venderam minha Ilha”!
Linda iniciativa para homenagear a nossa Ilha querida. Lindas lembranças!
ResponderExcluirbeijos saudosos