sábado, 14 de novembro de 2009

CURTINDO UM SOM


foto: elaine borges


(...) E, assim como está escrito em algum lugar que as concierges são velhas, feias e rabugentas, assim também está gravado em letras de fogo, no frontão do mesmo firmamento imbecil, que as ditas concierges têm gatos gordos e hesitantes que cochilam o dia inteiro em cima de almofadas cobertas de capas de crochê.

Assim que li essa frase no livro A elegância do ouriço, de Muriel Barbery (Companhia das Letras) (1), logo pensei na minha pequena amiguinha de quatro patas. Ela certamente ficaria ofendida se a descrevessem assim. Gorda, confesso, ela é (como sua amiga de duas patas). Mas não é defeito, é puro charme. Dormir? Não há felino que não goste de se dedicar a prolongadas sonecas. Mas hoje, por exemplo, minha tarde foi totalmente voltada para ouvir música e quem vejo ali, num cantinho, próximo ao som? A Bibi, tão feliz quanto eu ouvindo meus queridos LPs.
Ouvi desde “The Temptations (“Papa was a rollin’stone”), Marvin Gaye (“I heard it through the grapevine”), Stevie Wonder (“For once in my live”), a sempre ótima Joni Mitchell (“Chalk mark in a rain stone”), o bluesman ingles John Mayall (“Jazz Blues Fusion”) e, finalmente, ouvi o excelente Dave Brubeck (“Time further out – Miró Reflexions”).
Que delícia!
Claro, ouvimos algumas notícias: repercussões sobre o apagão e os argumentos desencontrados do governo Lula (difícil essa turma admitir que comete erros); a possibilidade de Florianópolis implantar o sistema de rodízio de carros para diminuir as filas... Mas, como descobrimos que às vezes é preferível ficar um pouco alheia aos acontecimentos desse mundo que nos cerca, voltei às minhas leituras, às músicas, ao pequeno mundo cá do nosso cantinho.

(1)Muriel Barbery é francesa, foi aluna da École Normale Supérieure e leciona filosofia na Normandia. Seu primeiro livro – Une gourmandise (2000) - foi traduzido em doze línguas. O A elegância do ouriço foi uma das grandes sensações literárias de 2006 na França. Fui “apresentada” a ela pela amiga Tânia Piacentini e estou achando ótimo. O livro, aliás, é da Biblioteca Barca dos Livros.

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