quinta-feira, 26 de novembro de 2009

FLORIANÓPOLIS: A ÁRVORE DA DISCÓRDIA


foto: elaine borges


Enquanto 40 alpinistas vindos de São Paulo se revezam para montar uma árvore de 60 metros de altura na Avenida Beira Mar Norte, cuja responsável pela “criação, execução, montagem e desmontagem”, a Palco Sul Eventos, recebeu R$ 3.700.000,00 da Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Esporte (contrato 1056/SETUR/2009) com dispensa de licitação, Florianópolis enfrenta problemas imensos: a Lagoa da Conceição está parcialmente poluída e as algas se amontoam junto à margem, exalando um cheiro insuportável; assaltos, assassinatos, roubos, acontecem diariamente e não há policiamento nas ruas; áreas que deveriam ser preservadas são ocupadas por fortes grupos da construção civil, sem a devida fiscalização dos órgãos responsáveis pela defesa do meio ambiente; o transporte urbano é deficiente e caro; o setor cultural anda de chapéu de mão solicitando apoio e alguns projetos aparentemente exitosos – como a Biblioteca Barca dos Livros – podem fechar por falta de apoio: ou seja, a cidade vive um dos seus piores momentos no quesito administração.
E há ainda outra iniciativa duvidosa: a vinda de Andrea Boccelli. Dessa vez caberá ao Governo de Santa Catarina pagar R$ 4 milhões, como já foi noticiado pela imprensa local, para o tenor cantar na festa de final de ano na Beira Mar Norte. Não se questiona aqui a importância de tão famoso cantor e ouvi-lo é sempre um prazer.
A pergunta é: não seria mais correto aplicar tão altas somas em outros projetos, como na despoluição das praias, construção de penitenciárias decentes, melhoria do transporte coletivo, das vias públicas, mais incentivos culturais, bibliotecas ambulantes, etc. (a lista é imensa)? Sabe-se que a Biblioteca Pública está entregue às traças, por exemplo. Responsáveis por obras assistências espalhadas pela cidade andam pedindo apoio. Não recolhem as algas das águas da Lagoa da Conceição por falta de dinheiro. Mas, segundo o prefeito Dario Berger, os gastos com as festas natalinas se justificam porque “Florianópolis é um dos principais destinos turísticos do Brasil”.
Escrevendo o texto acima, intercalo com um suspiro, um “ai, meu Deus”, e a inevitável pergunta: até quando Florianópolis, cidade que é um mimo, uma jóia rara, será tão explorada, maltratada, destruída por grupos empresariais, por políticos sem a grandeza necessária que se exige no trato do bem público?
Temos a Justiça Federal que na última terça-feira condenou a Habitasul a pagar R$ 7.5 milhões de indenização “por danos ao meio ambiente causados por obras dos residenciais Arte Dell’Acqua I e II, em Jurerê Internacional, norte da Ilha de Santa Catarina. O município de Florianópolis e a Fundação do Meio Ambiente também foram condenados ao pagamento de indenização de R$ 100 mil.”
No final da sentença do juiz Guy Vanderley Mercuzzo há a observação: “os réus podem recorrer ao Tribunal Regional Federal da 4ª região em Porto Alegre”. Ou seja, a novela vai longe e, de novo, dou mais um suspiro e murmuro: “ai meu Deus”. E faço um pedido: protegei nossa Florianópolis não só dos ventos e das tempestades, mas também daqueles que estão destruindo o nosso pequeno paraíso.

Um comentário:

  1. Bela defesa da nossa maltratada ilha! Também suspirando, te agradeço. Infelizmente, a ganância está destruindo, de forma calamitosa, " um dos principais destinos turísticos do Brasil".

    ResponderExcluir