segunda-feira, 30 de novembro de 2009

DENÚNCIA: MANGUES, PRAIAS, RIOS, MARES, SOB AMEAÇA

Santo Antonio de Lisboa - foto: elaine borges

NÃO AO LANÇAMENTO DE “ESGOTO TRATADO”
EM NOSSOS MANGUES, RIOS, PRAIAS, BAIAS E MARES!!!

Nós do Movimento Municipal de Saneamento, Entidades Comunitárias, Maricultores, Pescadores Artesanais e Extrativistas que estamos a mais de um ano exigindo transparência nos debates dos projetos da Prefeitura e CASAN para o Tratamento e Esgotamento Sanitário de Florianópolis, estamos hoje denunciando a grande armação que esta sendo feita com as Obras de Saneamento do PAC.
Denunciamos que as garantias do pleno cumprimento das diretrizes, princípios e prioridades da Lei Nacional de Saneamento Básico e Ambiental, de prevenção e promoção da saúde e proteção do meio ambiente, que deveriam ser aplicadas no Esgotamento Sanitário do nosso município e região, com sustentabilidade econômica, social e ambiental, não estão sendo respeitadas pelo Governo do Sr Dário Berger e pela CASAN.
Isso fica claro, pelo caráter irresponsável e oportunista, que norteou a proposta aprovada no Conselho Municipal de Saneamento, dia 11 de novembro, que autoriza o lançamento de “Esgotos Tratados” da futura Estação de Tratamento do Campeche para o interior do leito do Rio Tavares, e deste para a Baia Sul. Maquiada esta proposta com Termos de Ajuste de Conduta e pelo caráter provisório com tempo determinado, nós e os representantes do Ministério Público Federal, IBAMA, ICMBio e o Ministério da Pesca, consideramos que esta decisão trará danos irreparáveis ao meio ambiente, acabará não tendo caráter provisório e muito menos o Termo de Ajuste de Conduta minimizará os efeitos previstos ou dará garantias de cumprimento de acordos, basta ver a forma como administram e tratam as atuais ETEs em operação na região de Florianópolis, inclusive seus termos de ajustes de conduta que não são cumpridos. Esta decisão, se colocada em prática, decreta a Morte da Pesca Artesanal, do Extrativismo de Berbigão, da Maricultura, do Lazer e Turismo Gastronômico, que dependem da sanidade das águas e do meio ambiente como condição básica para seu mínimo desenvolvimento.
Ainda que sendo “tratados”, os esgotos de dezenas de milhares de moradores do Campeche, do Sul e Leste da Ilha (com vazão de 279 litros por segundo) e futuramente somado com os esgotos da região da Barra do Sambaqui, da Bacia do Itacorubi até a Costeira, como está previsto no projeto da CASAN, e que hoje são lançados ao solo de toda a região por suas fossas, sumidouros e sistemas individuais, passarão a ser lançados no leito do Rio Tavares, carregando portanto enormes concentrados de agentes patogênicos que representam riscos a saúde (como hepatite C, leptospirose) e os chamados nutrientes – nitrogênio e fosfato – que estimulam o crescimento de algas tóxicas, conhecidas como maré vermelha.
A CASAN está propondo desinfectar os efluentes e remover parte dos nutrientes (aprox 20-40%), porem cientificamente esta comprovado que não é suficiente em regiões onde a qualidade das águas tem que atender a segurança sanitária para a produção alimentos, pois nestes “esgotos tratados” permanecem ainda os agentes patogênicos e nutrientes que apresentam risco real à saúde dos consumidores de frutos do mar, alem de riscos a sobrevivência econômica de centenas de famílias que trabalham com pesca artesanal, maricultura, a extração de berbigão, afetando também os setores de bares, restaurantes e turismo. As baías Sul e Norte são responsáveis por 90 % da produção de mariscos e ostras do Brasil, e esta produção representa a quinta maior arrecadação da economia local. Para agravar ainda mais, a Estação de Tratamento está sendo instalada em um terreno que todos sabemos ser área de domínio das águas, seja pelo refluxo das marés altas ou pelos períodos intensos de chuva. É área alagadiça, um verdadeiro charco, ao lado da Reserva Extrativista de Pirajubae que é administrada pelo Instituto Chico Mendes - ICMBio.
Esta aprovação ocorreu sem aprofundar o debate interno e com a sociedade, num acordão da Prefeitura e CASAN com técnicos do Ministério das Cidades e Casa Civil/PAC, na busca de a qualquer custo encaminhar as obras e projetos do PAC Saneamento de Florianópolis. A urgência e rapidez da votação, demonstram que a aprovação da proposta servirá como facilitador de alianças e palanques para as eleições de 2010, e é fruto das articulações, pressões e interesses dos setores especulativos imobiliários e da construção civil donos de vazios urbanos e loteamentos congelados por falta de rede de esgoto.
No Plano Diretor e na escolha do Sistema de Tratamento, nas prioridades das Redes Coletoras, na localização das ETEs e na destinação final dos efluentes sanitários, querem aprofundar ainda mais as exclusões sociais e a concentração de terra e renda na região. Nossas demandas de prioridade na universalização do acesso ao saneamento básico com qualidade e para todos, bem como a defesa da maricultura são obstáculos para seus interesses, por isso para eles vale tudo neste jogo de disputa, em especial o bloqueio de qualquer processo democrático de gestão, participação e controle social na elaboração e aprovação das políticas públicas de infraestrutura e planejamento do desenvolvimento urbano regional, inclusive na realização deste seminário. Denunciamos que a realização deste SEMINÁRIO DE INSANIDADE BÁSICA, com baixíssima divulgação, com as exclusões de temas importantes, de representações populares e de debatedores alternativos aos projetos da CASAN e Prefeitura, não serve como evento técnico e muito menos político para debater as alternativas necessárias, possíveis e existentes. Se a realização do seminário fosse séria, para que seus resultados servissem de fato para pactuar as posições e negociações, na busca de um consenso entre as demandas de saneamento dos setores da sociedade, este deveria no mínimo ter acontecido meses antes do próprio Conselho ter aprovado a proposta da CASAN, Prefeitura e dos técnicos do Ministério das Cidades.
Denunciamos também que na imposição da proposta como um todo, está também sendo empurrado goela a baixo, como única proposta possível, a construção de Grandes ETEs e de Emissários Submarinos a curto, médio e longo prazo para a deposição final dos esgotos tratados das ETEs, como o que está sendo agora debatido no EIA/RIMA do Emissário de Ingleses para a região norte da ilha, com localização nos Ingleses, onde encontra forte resistência dos mais diversos setores econômicos e sociais da região. Por sua vez, as Licenças Ambientais que existem para construir ou operar as ETEs do Campeche e de Ingleses estão em desacordo com os objetivos iniciais de sua aprovação, devido à nova demanda populacional que elas pretendem atender.

Por tudo isso é que nós maricultores, extrativistas, pescadores e dos movimentos sociais, não iremos legitimar a realização deste Seminário do Conselho Municipal de Saneamento, pois serve apenas para referendar de forma cartorial a decisão do conselho na votação de 11 de novembro de 2009.

Aproveitamos a oportunidade para informar que estamos entrando com Ação Civil Pública contra o projeto aprovado. Por último convidamos a população, a imprensa e os demais interessados para irem participar da 2a OFICINA DE ALTERNATIVAS DE TRATAMENTO DE ESGOTO que se realizará neste sábado das 14 às 18h nos ingleses, com o apoio dos professores sanitaristas da UFSC, Pompeo e Luiz Sérgio, e a partir do esforço de entidades comunitárias do Sul e Norte da Ilha de Santa Catarina, no Colégio Santa Terezinha, Rua das Safiras, atrás do Supermercado Angeloni, em Ingleses.
Aproveitamos por último para convidar todos a se mobilizarem e participarem dos debates que estão ocorrendo com o EIA/RIMA do Emissário de Ingleses e da Audiência Pública de ira acontecer no Centro Comunitário da Fazenda do Rio Tavares, ao lado do Terminal TIRIO, às 19hs do dia 03 de dezembro, quinta feira próxima.
Informamos também que o Mov. Municipal de Saneamento, se reúne nesta segunda feira, dia 30 de novembro, as 19h30minh, numa sala superior da Catedral para organizar e avaliar as nossas ações, e dar encaminhamentos para nossos passos futuros, entre eles a Ação Civil Pública contra os projetos em andamento e a Consulta Técnica do Ministério da Pesca com o Movimento, Maricultores e Pescadores..
Atenciosamente,
Movimento Municipal de Saneamento


sábado, 28 de novembro de 2009

TORNATORE E O CINEMA


Vi numa madrugada dessas a entrevista que o diretor italiano Giuseppe Tornatore (“Cinema Paradiso”) deu ao Jô, no seu programa na TV Globo. Tornatore esteve no Brasil para lançar seu mais novo filme, Baaria (segundo a crítica, é seu filme mais pessoal). A certa altura, ele fala de sua grande felicidade: “É quando entro na sala de cinema, a luz apaga e eu penso: “estou feliz”. É exatamente essa a sensação que tenho quando, no escurinho do cinema, sei que viverei ali bons momentos. Tornatore também confessou ser um cineasta sem muitos critérios na escolha dos filmes que vai ver. Sempre há cenas, momentos, que o deixam feliz. “Não sou exigente”, disse. Devo confessar que meus pequenos momentos de felicidade também são esses: ir ao cinema.
E foi por esse meu amor ao cinema que li nesta madrugada o livro de David Gilmour, O Clube do Filme (Editora Intrínseca). Gilmour é critico de cinema, e relata a maneira que encontrou para ajudar o filho em um momento crucial de sua vida. O menino não queria estudar e o pai faz a ele uma proposta: sair da escola desde que assistisse três filmes por semana. O que me atraiu foi exatamente isso: os filmes que o pai mostraria ao filho. E são tantos que fiz também com o autor uma viagem. Na minha memória revi os filmes citados por ele. São 115 no total. Lá estão filmes do Fellini, Huston, Allen, Kurosawa, Coppola, John Ford, Kazan, Malle, Bertolucci...
Há ainda relatos de suas entrevistas com atores, atrizes, cantores. E algumas citações sobre escritores (Virginia Woolf, Tchekhov...).

O filho pergunta:

- E como era George Harrison? (Um cara legal, mas quando eu ouvia aquele sotaque de Liverpool era difícil não pular e gritar: “Você era um dos Beatles. Deve ter pegado milhares de garotas!”); Ziggy Marley (filho de Bob, um pequeno cretino mal-humorado); Henri Keitel (grande ator, mas, com o cérebro de um porco assado); Richard Gere (um típico ator pseudointectual, que não se deu conta de que as pessoas prestam atenção nele por ser uma estrela de cinema, e não um pensador); Jodie Foster (entrevistá-la é como tentar arrombar o Forte Knox); Dennis Hopper (desbocado, engraçado, um grande sujeito); Vanessa Redgrave (calorosa, majestosa, entrevistá-la era como conversar com a rainha); Yoko Ono (defensiva e convencida demais; quando perguntei sobre as motivações e implicações de seu último projeto, ela respondeu: “Você faria essa pergunta a Bruce Springsteen?); Roberto Altman (falante, culto, despreocupado, não me admira que atores trabalhassem para ele por qualquer trocado).


Pra quem gosta de cinema, vai a sugestão: ler O Clube do Filme – O pai. Um filho. Três filmes por semana.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

FLORIANÓPOLIS: A ÁRVORE DA DISCÓRDIA


foto: elaine borges


Enquanto 40 alpinistas vindos de São Paulo se revezam para montar uma árvore de 60 metros de altura na Avenida Beira Mar Norte, cuja responsável pela “criação, execução, montagem e desmontagem”, a Palco Sul Eventos, recebeu R$ 3.700.000,00 da Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Esporte (contrato 1056/SETUR/2009) com dispensa de licitação, Florianópolis enfrenta problemas imensos: a Lagoa da Conceição está parcialmente poluída e as algas se amontoam junto à margem, exalando um cheiro insuportável; assaltos, assassinatos, roubos, acontecem diariamente e não há policiamento nas ruas; áreas que deveriam ser preservadas são ocupadas por fortes grupos da construção civil, sem a devida fiscalização dos órgãos responsáveis pela defesa do meio ambiente; o transporte urbano é deficiente e caro; o setor cultural anda de chapéu de mão solicitando apoio e alguns projetos aparentemente exitosos – como a Biblioteca Barca dos Livros – podem fechar por falta de apoio: ou seja, a cidade vive um dos seus piores momentos no quesito administração.
E há ainda outra iniciativa duvidosa: a vinda de Andrea Boccelli. Dessa vez caberá ao Governo de Santa Catarina pagar R$ 4 milhões, como já foi noticiado pela imprensa local, para o tenor cantar na festa de final de ano na Beira Mar Norte. Não se questiona aqui a importância de tão famoso cantor e ouvi-lo é sempre um prazer.
A pergunta é: não seria mais correto aplicar tão altas somas em outros projetos, como na despoluição das praias, construção de penitenciárias decentes, melhoria do transporte coletivo, das vias públicas, mais incentivos culturais, bibliotecas ambulantes, etc. (a lista é imensa)? Sabe-se que a Biblioteca Pública está entregue às traças, por exemplo. Responsáveis por obras assistências espalhadas pela cidade andam pedindo apoio. Não recolhem as algas das águas da Lagoa da Conceição por falta de dinheiro. Mas, segundo o prefeito Dario Berger, os gastos com as festas natalinas se justificam porque “Florianópolis é um dos principais destinos turísticos do Brasil”.
Escrevendo o texto acima, intercalo com um suspiro, um “ai, meu Deus”, e a inevitável pergunta: até quando Florianópolis, cidade que é um mimo, uma jóia rara, será tão explorada, maltratada, destruída por grupos empresariais, por políticos sem a grandeza necessária que se exige no trato do bem público?
Temos a Justiça Federal que na última terça-feira condenou a Habitasul a pagar R$ 7.5 milhões de indenização “por danos ao meio ambiente causados por obras dos residenciais Arte Dell’Acqua I e II, em Jurerê Internacional, norte da Ilha de Santa Catarina. O município de Florianópolis e a Fundação do Meio Ambiente também foram condenados ao pagamento de indenização de R$ 100 mil.”
No final da sentença do juiz Guy Vanderley Mercuzzo há a observação: “os réus podem recorrer ao Tribunal Regional Federal da 4ª região em Porto Alegre”. Ou seja, a novela vai longe e, de novo, dou mais um suspiro e murmuro: “ai meu Deus”. E faço um pedido: protegei nossa Florianópolis não só dos ventos e das tempestades, mas também daqueles que estão destruindo o nosso pequeno paraíso.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

FLOR ESTRANHA


foto: elaine borges
Pra não dizer que não falei de flores (lembrando Vandré) vai aí uma flor estranha. Não sei o nome, mas é bem bonita. Floriu agora por aqui.

domingo, 15 de novembro de 2009

PORCOS DEPOIS DE PÉROLAS

Duas mulheres se encontram à porta de um edifício. Uma sai e outra entra. A primeira dá passagem à mais velha dizendo:
- Entre. Deixo a idade passar antes da beleza.
A mais velha entra e diz:
- E agora passe você. Porcos depois de uma pérola.

Esse ferino diálogo aconteceu entre a escritora Lillian Hellman (a mais velha) e sua arquiinimiga Claire Booth Luce, também escritora teatral. É parte de um texto da atriz Beatriz Segall para O Estado de S. Paulo (Caderno 2 – Cultura) comentando o relançamento da peça de Lillian Hellman As Pequenas Raposas traduzida por Clarice Lispector (José Olympio), encenado por ela entre 2004/2005. Mulher do também famoso escritor Dashiell Hammett (“O Falcão Maltês”) o casal enfrentou o período da caça aos comunistas do senador Joseph McCarthy, na década de 50 nos Estados Unidos. Intimada a depor no tribunal, se negou a falar. Seu gesto corajoso foi imitado depois por outros norte-americanos acusados de terem ligação com a esquerda. De Lillian Hellman também foi lançado no Brasil, anos atrás, Pentimento (sugiro a leitura, embora esgotado talvez possa ser encontrado em sebos), que resultou no belo filme Julia (1978) de Fred Zinnemann, com Jane Fonda e Vanessa Redgrave.

sábado, 14 de novembro de 2009

CURTINDO UM SOM


foto: elaine borges


(...) E, assim como está escrito em algum lugar que as concierges são velhas, feias e rabugentas, assim também está gravado em letras de fogo, no frontão do mesmo firmamento imbecil, que as ditas concierges têm gatos gordos e hesitantes que cochilam o dia inteiro em cima de almofadas cobertas de capas de crochê.

Assim que li essa frase no livro A elegância do ouriço, de Muriel Barbery (Companhia das Letras) (1), logo pensei na minha pequena amiguinha de quatro patas. Ela certamente ficaria ofendida se a descrevessem assim. Gorda, confesso, ela é (como sua amiga de duas patas). Mas não é defeito, é puro charme. Dormir? Não há felino que não goste de se dedicar a prolongadas sonecas. Mas hoje, por exemplo, minha tarde foi totalmente voltada para ouvir música e quem vejo ali, num cantinho, próximo ao som? A Bibi, tão feliz quanto eu ouvindo meus queridos LPs.
Ouvi desde “The Temptations (“Papa was a rollin’stone”), Marvin Gaye (“I heard it through the grapevine”), Stevie Wonder (“For once in my live”), a sempre ótima Joni Mitchell (“Chalk mark in a rain stone”), o bluesman ingles John Mayall (“Jazz Blues Fusion”) e, finalmente, ouvi o excelente Dave Brubeck (“Time further out – Miró Reflexions”).
Que delícia!
Claro, ouvimos algumas notícias: repercussões sobre o apagão e os argumentos desencontrados do governo Lula (difícil essa turma admitir que comete erros); a possibilidade de Florianópolis implantar o sistema de rodízio de carros para diminuir as filas... Mas, como descobrimos que às vezes é preferível ficar um pouco alheia aos acontecimentos desse mundo que nos cerca, voltei às minhas leituras, às músicas, ao pequeno mundo cá do nosso cantinho.

(1)Muriel Barbery é francesa, foi aluna da École Normale Supérieure e leciona filosofia na Normandia. Seu primeiro livro – Une gourmandise (2000) - foi traduzido em doze línguas. O A elegância do ouriço foi uma das grandes sensações literárias de 2006 na França. Fui “apresentada” a ela pela amiga Tânia Piacentini e estou achando ótimo. O livro, aliás, é da Biblioteca Barca dos Livros.

sábado, 7 de novembro de 2009

SÁBADO NA ILHA


foto: elaine borges - Morro da Cruz

Sábado com previsão de que domingo vai chegar o ventinho que sopra do sul. Ufa! Sinal de que esse calorão insuportável de uma primavera muito estranha está indo embora.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

RACIONAIS E IRRACIONAIS

foto: elaine borges
Ela não fala, mas sabe que alguma coisa não vai bem. Enquanto escrevo, não escondo minha indignação com esses casos de torturas nas prisões de Santa Catarina e fico falando alto. É quando minha amiguinha de quatro patas me olha, cá do seu canto, bem ao lado do monitor. Como explicar a um animal não racional quanta dor nós, animais racionais, causamos aos nossos semelhantes?

EXONERADO DIRETOR DO DEAP

Um já foi exonerado: Hudson Queiroz, diretor do Departamento de Administração Prisional de Santa Catarina. No vídeo sobre a tortura de presos na Penitenciária de São Pedro de Alcântara, ele aparece. Ou seja, viu tudo, mas nega ter testemunhado os espancamentos, os chutes dos presos que, algemados, também tiveram suas cabeças enfiadas nas privadas. Alguns deputados da Assembléia Legislativa de SC se reuniram ontem e tentam criar uma CPI.
Sou cética quanto às CPIs, quase sempre dão em nada.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

FLORIANÓPOLIS E SEUS PROBLEMAS

foto: elaine borges
Mais cenas de violência ontem cá na Ilha: populares agredidos por homens da Polícia Militar no centro da cidade. Consequência de uma paralisação relâmpago dos condutores e cobradores dos ônibus do transporte coletivo de Florianópolis. Populares indignados, motoristas tentando fechar a ponte Colombo Salles; ali perto trabalhadores da Zona Azul denunciando a tentativa de privatizar o setor; e ainda a greve dos funcionários da Secretaria da Saúde. Não é mais possível dizer que Florianópolis é uma cidade tranquila. Como todas as capitais, os problemas se avolumam, a população sofre e os governantes se omitem. Talvez tranquilidade só olhando a cidade com uma lente grande angular, como desta foto acima, tirada no início da noite de ontem na Lagoa da Conceição que, alias, também está repleta de problemas: poluição das águas, trânsito caótico, insegurança, ocupação irregular, desmatamentos...

HUMILHADOS E OFENDIDOS

As imagens veiculadas no Fantástico de domingo dão bem a dimensão de como os presos são tratados nas penitenciárias de Santa Catarina: torturados, humilhados, agredidos, chutados... As cenas em que aparecem os presos na penitenciária de segurança máxima de São Pedro de Alcântara são suficientes para exigir ação rápida, rigorosa e transparente do governador Luiz Henrique da Silveira. Abrir sindicância já é praxe quando há denúncias como estas. No entanto, poucos são os punidos. Sabe-se que já foi aberta uma sindicância, mas as cenas são tão fortes, evidentes, que não deixam dúvidas.
Lendo matéria de Luiz Nunes, no UOL Notícias, há detalhes que demonstram que torturar presos é uma prática antiga em Santa Catarina: ”Bateram com borracha do freezer, nos colocaram ajoelhados, beijando os pés deles, e depois arrancavam nossas cuecas”, relatou um detento que hoje cumpre regime semi-aberto. Seu relato refere-se ao que ocorreu em março no presídio de Tijucas, distante cerca de 50 km de Florianópolis.
Há ainda o relato de um pai de um prisioneiro que acusa os agentes penitenciários de terem torturado tão violentamente seu filho que quatro dias após ele morreu: “Quem matou foram os agentes prisionais. Espancaram até a morte”, relatou. O fato ocorreu em janeiro do ano passado, foi denunciado, mas o processo foi arquivado pelo Departamento de Administração Prisional de SC.
Como disse o presidente da Comissão de Assuntos Prisionais da OAB em Santa Catarina, Francisco Ferreira, ao repórter Luiz Nunes, as imagens são claras e, portanto, não se justifica “uma sindicância sigilosa”. "O que deveria haver é um processo administrativo-disciplinar. Se tiver resposta penal e administrativa rápida, servirá como fator inibidor".

domingo, 1 de novembro de 2009

SAUDADES


foto: elaine borges




O TEMPO NÃO PÁRA!


Mário Quintana

Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...


PARA SEMPRE


Carlos Drummond de Andrade

Por que Deus permite

que as mães vão-se embora?

Mãe não tem limite,

é tempo sem hora,

luz que não apaga

quando sopra o vento

e a chuva desaba,
veludo escondido

na pele enrugada,

água pura, ar puro,

puro pensamento.

Morrer acontece

com o que é breve

e passa sem deixar vestígio.

Mãe, na sua graça,

é eternidade.

Por que Deus se lembra

- mistério profundo -

de tirá-la um dia?

Fosse eu Rei do Mundo,

baixava uma lei:

Mãe não morre nunca,

mãe ficará sempre

junto de seu filho

e ele, velho embora,

será pequenino

feito grão de milho.