domingo, 18 de abril de 2010

BRINCANDO DE LEMBRAR

foto: elaine borges (*)
Nas figuras de Franklin Cascaes o pião está nas mãos do menino pronto para girar...até dormir. Só que pião dorme em pé! Quando ele gira retinho, no eixo, e bem rápido, dizemos que está dormindo. Para fazê-lo rodar é preciso muita habilidade e ser bom de pontaria. Mas também é preciso ter muito cuidado. Tem menino que faz o que parece impossível: roda o pião na palma da mão, passa de um braço para outro e faz girar até na ponta da unha!
O trecho acima é de um livro delicado, bonito, que nos leva a lembrar da nossa infância. De quando brincávamos de rodar o pião, jogando-o no chão usando como impulso um cordão; de quando o supra sumo da felicidade era correr num vasto campo para que a pandorga subisse, o mais alto possível; ou então de andar sobre pernas de pau, com alturas que desafiavam nosso equilíbrio e nossa coragem. Telma Piacentini nos conduz a esse mundo, ao nosso cotidiano infantil, através do livro "Brincadeiras Infantis na Ilha de Santa Catarina" (Fundação Franklin Cascaes - Publicações), lançado na última quarta-feira. O livro é o resultado de uma pesquisa do acervo de esculturas de argila do Franklin Cascaes (1908/1983), um dos nossos mais importantes artistas, pesquisador e escritor.
Na pesquisa, a autora descreve várias brincadeiras, como o roda pião, bolinhas de vidro, pandorga, perna de pau, roda de aro, carrinhos de madeira, batizado de boneca...Cita ainda o trabalho transformado em brincadeira, como do menino brincando de fabricar farinha de mandioca, da menina raspando mandioca, brincando de engenho de açúcar, ajudando na pesca, malhando o Judas...
Este é um livro imprescindível para quem estuda a infância na cultura brasileira, os laços entre arte, cotidiano e memória e, principalmente, para quem deseja conhecer melhor as raízes do imaginário tradicional da Ilha de Santa Catarina, escreveu Gilka Girardello, ao apresentar tão delicado livro.
E conclui: "Em tempos como o nosso, em que a expressão "Ilha da Magia" foi banalizada pelo marketing e diante do rolo compressor da urbanização descontrolada, um livro como este é especialmente necessário e políticamente contundente. Ele nos ajuda a parar, a sentir, a olhar melhor para os que está à nossa volta e para os presentes da história. Telma Piacentini nos dá a ver um outro sentido da "magia" da cultura tradicional da região, um sentido que Cascaes também via, e que tem relação com os mistérios da memória e com a potência criadora sempre renovada da imaginação infantil".
(*) Capa do livro com um pião da minha coleção de brinquedos infantis.

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