foto: elaine borges
Difícil conter as lágrimas diante de tantas tragédias: mãe chorando a perda do filho; um homem solitário, desesperado, vendo um monte de lixo cobrindo os corpos de toda a sua família; lágrimas escorrendo nas faces de um homem; duas mulheres implorando para que os bombeiros fossem lá, no alto daquele monte de entulho, tentar resgatar os corpos da família; uma menina apontando o lugar onde antes ficava sua casa...Todos sofrendo, todos moradores de um morro cujas casas foram construídas sobre o que antes era um lixão. Construções permitidas pela prefeitura de Niterói, no Rio de Janeiro. Prefeitura que há quinze anos é governada pelo PDT, cujo atual prefeito tenta justificar o injustificável: permitir e até incentivar que famílias inteiras lá, sobre uma bomba-relógio, construíssem seus lares, creches, bares, igrejas. "Se eu pudesse evitar isso, com certeza teria evitado", disse o prefeito. Reação tardia. Hoje os mortos já passam de 200.
As equipes de resgate fazem um trabalho insano, tentando encontrar corpos debaixo de uma montanha de entulho. As informações dizem que serão necessários inúmeros caminhões para tentar retirar os corpos do Morro do Bumba - esse o nome do local da tragédia. Os que se salvaram, saíram com a roupa do corpo, sem nada mais. Saíram com vida, mas o que os espera pela frente? As autoridades locais darão o devido apoio a essa gente? Eles terão de novo lares dignos? As crianças terão escolas? Ou serão instaladas em locais impróprios, longe de tudo e de todos?
A tragédia no Rio já se repetiu em outras cidades. Nosso país têm inúmeras áreas de risco ocupadas por brasileiros pobres que não têm outra opção a não ser construir suas casas nessas regiões. Florianópolis está nesta lista: há moradores nos nossos morros correndo risco de, com a ocorrência de enxurradas, verem suas casas desmoronarem. Os morros foram ocupados sem planos de prevenção, sem estudo do solo, sem planejamento. A catástrofe de 2008, em Santa Catarina, pode se repetir. E até hoje ainda há famílias esperando novas casas. Em Florianópolis hoje se discute um novo Plano Diretor para a cidade. Essa é a oportunidade ímpar que temos de elaborar um plano respeitando a opinião dos moradores, sem privilegiar grupos econômicos que apenas visam lucro imediato. As tragédias de hoje não podem ter como culpados apenas os fenômenos naturais.
Que nossos olhos um dia derramem lágrimas de alegria por vivermos em cidades bem planejadas e não sujeitas a tanta tragédia como a que vemos no Rio.
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