Eli Heil
Sentada ali, entre as amiguinhas da classe, ela só tinha uma idéia fixa. Fugir rapidamente da sala para curtir seu grande e secreto prazer: chupar aquela chupeta que trazia escondida no bolso da saia. Prestar mesmo atenção nas lições da professora, ela não prestava. A chupeta, aquela pequena bola de borracha encaixada numa argola de plástico, esse era seu grande segredo. Esse sim era seu grande momento de felicidade.
Com seis anos, finalmente sua mãe a convenceu de que, se enterrasse a chupeta no jardim, nasceria uma bela árvore cheia de chupetas.
Com seis anos, finalmente sua mãe a convenceu de que, se enterrasse a chupeta no jardim, nasceria uma bela árvore cheia de chupetas.
Essa menininha que não largava o bico, ou chupeta, de jeito nenhum, é a hoje senhora Eli Heil, 80 anos, pintora, escultura, poeta, que, às vezes, desanda a cantar enquanto mostra o seu Museu Mundo Ovo, localizado no Km sete da SC-401, que reúne mais de 2.000 obras. Uma senhora que viaja por um fantástico mundo imaginário e hoje é uma das mais importantes artistas de Santa Catarina.
O relato acima foi parte de seu depoimento que escrevi para o DC, em 1996 (um caderno especial sobre os personagens catarinenses). Naquela época, com 67 anos, Eli estava, como sempre, falante, entusiasmada, relembrando fatos de sua longa vida:
Eu lembro de mim, ainda menina, bem barriguda de tanto comer. Eu era muito gulosa!
A cor é tudo, é a expressão de todo meu sentimento. Cada cor representa o meu sentimento daquele momento... O vermelho tanto é terrível como alegre. Ele vai e volta...
Eu não tenho outra vida. Toda a minha paixão, o meu sofrimento, são minhas pinturas, esculturas, desenhos...
Dizia também que tinha uma mania: dormir com os lábios pintados. E que não suportava ver a filha, Teresa Cristina, “sem um batonzinho nos lábios”.
Pois ontem, Eli recebeu uma grande homenagem: um livro com relatos de sua vida - Óvulos de Eli – a expulsão dos seres de Eli Heil - organizado por Kátia Klock e Vanessa Schultz, com patrocínio da Fundação Franklin Cascaes, prefeitura de Florianópolis e apoio cultural da Unimed. Foi um belo momento realizado na Biblioteca Barca dos Livros, na Lagoa da Conceição.
E Eli Heil lá estava, sorridente, feliz, como uma menina que há muito tempo trocou a chupeta pelos pinceis e iniciado uma longa viagem pelo mundo das cores, do verde, amarelo, vermelho, pelos móbiles, objetos, esculturas... Mundo que nós sempre gostamos de, com ela, entrar e percorrer sua fantástica casa-museu.
gostei do teu comentário!
ResponderExcluirOi Elaine, passei pra te deixar um beijinho e dizer que tenho lido muito ultimamente sobre esse nosso ofício do jornalismo. Eita coisa complexa e apaixonantemente besta esta cachacinha que nos deixa assim assim. A Eli é uma doida das tintas, mulher exemplar desta espécimes magníficas que de frágil nada tem.
ResponderExcluirbeijos
Evandro