Quando a Bibi ouviu um som diferente, olhou pra televisão e viu que o assunto era ainda cinema, correu para seu refúgio predileto, a cadeira embaixo da mesa. Levantei levemente a toalha e ela só me olhou de soslaio. Vi, de um outro ângulo, seu enorme rabo peludo, balançando, numa clara demonstração de que preferia permanecer ali, fora do meu mundo porque de filmes, atores, atrizes, cinema, ela já estava farta. Ela ouvia, lá no seu mundinho, palavras como "hommage", "rôle""bonheur" e - bem sei - devia pensar: "Lá está minha mais fiel amiguinha de duas patas ouvindo essa língua estranha que eu pouco entendo, mas sei, pelo som, que é muito bonita". Eu via, naquele momento, o 34ª Nuit des César, o Oscar frances, transmitido pela TV5Monde, diretamente do Teatro Châtelet de Paris. Vi toda a cerimônia, vi o Vincent Cassel receber o prêmio de melhor ator pelo filme Mesrine. Ao seu lado, sua bela mulher, a atriz Monica Bellucci. Vi Yolande Moreau receber o Cèsar de melhor atriz pelo filme Seraphine. O filme já é um grande sucesso na França, em cartaz desde outubro último. Só sei que é a história verídica de uma pintora primitiva, Seraphine Louis (1864/1942), que morreu em um hospital psiquiátrico. Seraphine, alias recebeu sete Cesars, foi o grande premiado da noite.
Na minha memória afetiva estão registrados grandes momentos vividos nas salas de cinema. E alguns deles foram revividos quando vi Agnès Varda (foto abaixo), hoje uma velha e respeitável senhora de 80 anos que lá estava pra receber o César de meilleur film documentaire, Les plages D'Agnès, um autoportrait, cheio de "tendresse", como disseram quando foi entusiásticamente homenageada. Lembrei de dois filmes da Varda: Le Bonheur ("As Duas faces da Felicidade"(1964) e Cleo das 5 às 7. Lembrei também de Jacques Demy, seu marido, também homem de cinema. Após sua morte, Agnès Varda caiu no mundo, voltada para os documentários e no ano passado manteve um diálogo com o cineasta e escritor Paul Auster ("Trilogia de Nova York") em Lisboa. Ou seja, a cineasta continua na ativa e tão lúcida que fez um documentário sobre sua vida "sem ser narcisista", como disse o crítico Luiz Zanin no seu blog.
Diante do meu entusiasmo e, sobretudo, da minha emoção, a Bibi arriscou um "pardon" por sua indelicadeza e, no final, ficou alguns minutos comigo, esperando a hora das pequenas lambidas que ela gosta de dar no copo de yogurte que costumo comer antes de dormir. É nosso pequeno ritual noturno. E depois me disse, gentilmente, "bonne nuit, ma chèrie".
Agnès Varda
chérie,
ResponderExcluirmon dieu, j'aime beaucoup ton blog!!
tout jour je pense: il faut connaitre le monde avec cette dame, il faut être chaque fois plus proche de lui...
merci, mon amie!
gros bisous.
Merci, chérie. Sont tes yeux et ton coeur.
ResponderExcluirBisous
Nane