quarta-feira, 29 de julho de 2009

CONVERSA DE DENTRO DA BOCA

Gaivota na Lagoa (foto: elaine borges)

Ao contrário do que alguns dizem, são as pessoas comuns que enriquecem nossa vida. Como alguns motoristas de táxi, aqueles "das antigas", os nativos que, nas conversas, tem uma especial maneira de contar um pouco as suas vidas. Hoje, por exemplo, saí do meu casulo provisório e, na Lagoa da Conceição (bela, sempre), senti o ventinho sul batendo no rosto, vi as gaivotas sobrevoando próximas as barcas que levam à Costa, registrei momentos únicos (a gaivota, por exemplo, posando pra mim) e retornei para o meu cantinho. Na volta, conversa vai, conversa vem com o motorista do táxi (explico: não tenho carro e uso muito táxi que, no final, sai mais barato e me proporciona bons diálogos com os motoristas, alguns já bons amigos), comentávamos sobre filhos, netos, família..."Os netos - dizia ele - hoje em dia, tiram a conversa de dentro da nossa boca". Seu Enésio não consegue ainda aceitar que seus netos (dez, no total) conversem de igual para igual com os mais velhos. "Tá faltando mais respeito", lamentava. Nesse momento, toca seu celular: "Alô querida, tô aqui no Tracobi e tô levando uma passageira próximo ao Shopping, me desculpa nega, agora não posso atender". Agora me digam: em que lugar um motorista de táxi trataria uma cliente com tanta intimidade, chamado-a de "nega" ou "querida"? Essa suposta intimidade, no entanto, não significa falta de respeito. É apenas um jeito de se expressar tão característico cá da Ilha.

O vento "suli" batendo, tantas belezas naturais a perder de vista, diálogos não "impertinentes", com tipos tão inesquecíveis, ainda me dão a certeza de que a vida vale a pena ser vivida em Florianópolis.

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