quarta-feira, 15 de julho de 2009

ESTOU NO LUCRO

Elaine Borges (auto retrato)
Naquela manhã de setembro de 1989 a conversa transcorria tranquila: do médico falando à sua paciente. "Em geral, e segundo as estatísticas, quem faz transplante de rim tem sobrevida de dez anos". Lembro que fiquei aturdida, acho que um pouco pálida. O tempo de sobrevida me parecia muito curto. Pensei: "Viver a vida, curtir o que me resta, é o que tenho que fazer". Viver sem mais exigências sabendo que breve minha presença cá na terra só permaneceria na memória das pessoas que me amam. Não chegarei aos cincoenta anos. Mas desmenti as estatísticas. Um dia, lá estava eu festejando meus 50 anos. "Consegui", gritava a plenos pulmões e com imensa alegria. Passei então a contar: mais um ano, mais dois, mais três e eu por aqui, vivendo. Vinte anos se passaram e cá tô eu. Hoje faz vinte anos que ouvi aquela sentença do médico. Houve um momento em que, muito mal no hospital, o padre me deu extrema-unção. Estava preparada pra enfrentar a morte. Ela, de novo, não veio. Ganhei mais uns anos. Há vinte desmenti as estatísticas. Minha irmã, Lena, foi a primeira que me deu um dos seus rins. Mas tive rejeição. Hoje o rim que carrego no meu corpo era de uma menina de doze anos. Adriana, seu nome. E graças a ela continuo viva. Minhas sensações , minha memória, minha alegria de viver não tem preço. Hoje comemoro mais um aniversário: 65 anos. Não escondo minha idade. Festejo. Amo dar um passo na frente do outro. Amo olhar o céu, o mar cá ao meu lado, a bela ponte... Gosto de ver as pessoas sem nome que passam por mim. Gosto de fixar imagens que vejo através da minha câmera. Gosto de fazer o tempo parar através das imagens que fixo com um rápido clic. Eternizo o momento. Escrevo. As letrinhas surgem e frases vão sendo formadas, dando um sentido ao meu pensamento. Imagem e texto. Texto e imagem. Um segue o outro. Ou, às vezes, basta a imagem. Ela é completa. Não há necessidade de explicar. Quero suscitar emoções, prazer. Mostrar, através do meu olhar, como é o mundo que me cerca. Compartilho o meu cotidiano. Se leio um livro, comento. O cinema sempre me ajudou a expandir meu mundo. Da sala escura redescubro sentimentos, vejo histórias de outras vidas. Há sons, imagens, palavras... Vejo imagens em movimento e me sinto bem. Ouço música e minha memória me conduz a outros momentos. Há prazer, há sensações, há emoções, há trocas, há boas conversas com amados amigos...Converso, dou risada, troco, me encanta a vida simples. Pedir mais? impossível. Já ganhei. Estou no lucro.

7 comentários:

  1. Nane, que belíssimo texto, ainda mais num dia em que todos celebramos a sua existência!!

    O lucro é todo nosso, saiba disso.

    Um beijo muito grande, um abraço muito apertado, e um brinde a você.

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  2. Lenina tem toda a razão: teus amigos celebram o lucro de estares conosco participando desta vida maravilhosa que curtimos ao teu lado e,também, através das tuas lentes. Beijos e PARABÉNS pela vida e pelo comovente texto.

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  3. Que emoção Elaine! Que lindo! Muitas muitas felicidades!
    Vana

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  4. Tia, tu és um exemplo de como viver a vida, Felicidades sempre.bj
    Diego Borges

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  5. Oi amiga,
    desculpa ter esquecido esta data tão importante para ti e tuas amigas. Aceitas parabéns atrasado?
    Precisamos comemorá-la com um de nossos bate-papos. Quando? Escolhe.
    Bjs Vera

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  6. Amados(as) amigos, tantas emoções, meu Deus! Muito obrigada por tanta gentileza, pelos elogios, pelo carinho, pela amizade...
    Beijos
    Elaine

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  7. Mulheres fortes sempre saem no lucro! Muitos anos ainda virão, com certeza. Beijos.

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