As imagens que vemos há mais de um mês são chocantes: inúmeras famílias com suas casas submersas, morando literalmente dentro da água. Vemos mulheres lavando roupas com água pela cintura, outras cozinhando improvisando tábuas sobre as águas, gatos nos telhados, crianças perigosamente se equilibrando nas tábuas improvisadas que servem também de frágeis pontes de ligação entre as casas... Desde abril não para de chover em nove estados do norte e nordeste. Inúmeros municípios estão debaixo d’água. E hoje o jornal O Estado de S. Paulo publicou matéria do repórter Rodrigo Brancatelli com uma triste constatação: o poder público não tem dispensado a mesma atenção àquela população como dispensou aos catarinenses atingidas pelas enchentes em novembro último.
Escreveu o repórter:
Santa Catarina teve 63 cidades afetadas, 137 mortes, 51 mil desalojados e 27 mil desabrigados. No total, a estrutura de suporte para lidar com as enchentes contou com 24 helicópteros e 4 aviões da Força Aérea. Doações da sociedade totalizaram R$ 34 milhões e o governo federal e o Congresso Nacional prometeram a liberação de R$ 360 milhões. Apesar de registrar um número menor de mortos até o momento, 45, o Nordeste tem 299 cidades afetadas, 200 mil desalojados e 114 mil desabrigados. Mesmo assim, com um número 4 vezes maior de pessoas que precisam urgentemente de ajuda, só 3 helicópteros e 3 aviões atuam na região. E as doações não alcançam R$ 4 milhões.
Só ontem (quarta), quase dois meses após o início das tempestades - que também castigam três Estados do Norte -, o governo federal destinou verba ao Nordeste, por meio de medida provisória assinada pelo presidente em exercício José Alencar, que liberou R$ 880 milhões - incluindo ajuda às vítimas da seca no Sul. As cidades atingidas ainda esperam repasse de R$ 23 milhões desde as enchentes do ano passado, referente a empenhos do Orçamento de 2007.
O sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor do estudo Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros deu a seguinte explicação ao repórter: "Em Santa Catarina, 137 mortos é chocante. No Nordeste, é histórico o problema das secas e das enchentes. Já não impressiona mais."
Mais uma vez constato: temos dois brasis. Lamentável que para o poder público as dores e tragédias das famílias que moram no norte não são as mesmas daqueles que moram no sul.
infelizmente as famílias que moram no norte e nordeste ainda não se deram conta que são esquecidas ou desprezadas pelos governantes nos momentos de grandes tragédias. Em 2010, terão a grande chance de darem o troco.
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