quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

NADA SABEMOS


Ficamos, eu a Bibi, fazendo um rápido balanço do ano que hoje termina. Foi um papo rápido: muita tragédia, a crise mundial, cujos reflexos certamente atingirão nosso país, lembrei dos que se foram e aí reli a frase do colunista Marcos Nobre, na Folha de ontem, ao relembrar o ótimo conto do James Joyce, Os Mortos, do livro Dublinenses (que já transcrevi trechos no blog, em 2003) quando ele cita parte do discurso do personagem Gabriel Conroy na festa de Dia dos Reis na casa das tias: "Em encontros como este, sempre nos ocorrem tristes recordações: lembranças do passado, da juventude, de mudanças, de rostos ausentes, cuja falta sentimos. Nossa passagem pela vida é marcada por muitas dessas recordações e, se tivéssemos de pensar nelas todo o tempo, não nos sobrariam forças para desempenhar corajosamente nossas tarefas entre os vivos".
Pois em festas dos finais de ano há sempre lembranças dos que se foram e que sempre sentimos falta: dos nossos pais, amigos, parentes, que só ficaram nas nossas memórias. Mas a gatinha não quis me ouvir. Preferiu dormir de maneira um tanto desajeitada no sofá da sala. Eu queria apenas lembrar do ano que marcou o centenário da morte do Machado de Assis, dos cem anos de Guimarães Rosa, se vivo fosse... Queria lamentar a tragédia causada pela chuvarada em Santa Catarina... Seria um balanço um pouco triste, é verdade. Mas queria também falar de otimismo, de paz.... E também de esperança: esperar que não sejamos afetadas tão duramente pela crise mundial que já desempregou tanta gente por este mundo afora; queria dizer pra Bibi que ainda tenho esperança por um mundo melhor, mas ela pouco me ouviu. Aí lembrei também de um aforismo de Fernando Pessoa quando diz "O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não" (do livro Aforismos e Afins - Companhia das Letras). Daí dei razão a sábia gatinha: melhor saber só o que é preciso saber. Não se antecipe aos fatos. Viva um dia atrás do outro. E aí, quando anunciarem que chegou 2009, pense que é apenas a mudança de um número no calendário. E siga outro conselho do Fernando Pessoa: "Se o nosso espírito pudesse compreender a eternidade ou o infinito, saberíamos tudo. Até podermos entender esse facto, não podemos saber nada".


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terça-feira, 30 de dezembro de 2008

ANTES DO TELHADO

UM AMIGO

Nei é um amigo de longa data. Que, como eu, chegou cá na Ilha há décadas, sumiu, andou por aí, e retornou. Sou uma das raras leitoras que tem seu primeiro livro de poesias - Outubro - (esgotado), publicado em 1975.

Pois o Nei publicou minha foto Mascote (abaixo) no seu blog, ilustrando sua bela crônica Antes do Telhado.

O que me deixou muito envaidecida.

Nei Duclós


Vi a coruja na ponta do telhado. Vertical, fazendo pose no entardecer. O periscópio do olhar transmite a impressão de corpo retorcido, fora de prumo. Ela apenas está atenta, girando a cabeça enquanto o corpo, imóvel, imita uma espiral. Seu canto é o silêncio, a sabedoria dos ouvintes.

Calada, como fruto em fim da feira, exibe a presença descartável quando acendem as luzes da aldeia. Quase não se vê o vulto que se apaga como as ilustrações de livros obscuros. Mas ela está lá. Seu segredo é que nada anuncia.

Ela se encerra, como um cofre de vime. Guarda-se em penas, desenhos mortos, pincéis de espinhos. A coruja trafega no lusco-fusco das celebrações ocultas. Existia antes do telhado, antes mesmo do terreno baldio cercado, antes do século, da História, da trilha. Já montava guarda quando nem pátria existia. Compartilhava o assombro dos habitantes do trovão, da nudez dos gigantes, das pedras trabalhadas em alfabetos perdidos. Percebia os invasores armados de velas, sabres, varíolas. Sabia o desfecho, já que pousa no telhado há uma eternidade.

Eu a conheço porque se identifica. Não que pronuncie seu nome ou faça algum gesto repetido. É porque habitamos esse chão comum do universo imperfeito. Temos noção exata do pensamento um do outro. Já fervemos em caldeirões, escapamos de armadilhas, sobrevoamos lobos. Agora jogamos no mesmo time.

Imagino tudo, menos o fato de que continua ali, na véspera dos fogos. Talvez não seja o mesmo exemplar que incendiou os antigos.

Mas é feita da mesma natureza, obedece ao impulso que a gerou. É um modelo de criatura que se reproduz na posição ereta das efígies. Lembra um signo, representando alguma nação que perdemos. Ou será o anúncio dos parentes que chegam novamente para ver a festa?

Na quina, avessa ao mundo, a coruja esconde um labirinto. Ao primeiro estrondo, ela voa em curva, como se um gesto imaginário desenhasse a linha de sua desistência.

Mas um duende permanece, mesmo que o sol rebente e a noite seja devorada na fervura das estrelas. A coruja é o verão, ambiente de sonhos. O Ano Novo é apenas o guardião de sua asa, fio de suas garras, brinco de realeza.


RETORNO 1. Imagem desta edição: Mascote, foto de Elaine Borges. Achei que tem tudo a ver com a crônica, apesar de o pássaro que está na beira do barco não ser uma coruja. Mesmo que fosse outro texto, esta seria a ilustração. Foto absolutamente magnífica da grande jornalista que aportou aqui na ilha há décadas. 2. (*) Crônica publicada hoje, dia 30 de dezembro de 2008, no caderno Variedadesdo Diário Catarinense.

domingo, 28 de dezembro de 2008

MASCOTE

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Cenas do cotidiano de quem mora em uma Ilha: uma gaivota, um barco, e a lagoa.

O HOMEM DA PLACA

Todos os anos, lá está ele: talvez seja uma das figuras mais conhecidas da Lagoa da Conceição. É ele que, sentado próximo à ponte, indiretamente dá início à temporada de verão com sua infalível placa anunciando aluguel das casas e apartamentos do local.

PRAIAS POLUIDAS

 
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foto: elaine borges

Todos os anos é a mesma coisa: a Fatma divulga semanalmente o relatório das praias poluidas no litoral de Santa Catarina. O último relatório deste final de ano informava que 64 pontos estão impróprios para banhos ao longo do litoral. Em Florianópolis são 27, entre eles, este da foto tirada hoje à tarde na Lagoa da Conceição.
A pergunta é: Quando serão desenvolvidos projetos para despoluir as praias? Informar aos banhistas que eles estão frequentando praias até com coliformes fecais é obrigação, mas é também obrigação do governo sanar tão graves problemas. Pelos dados da Fatma, 33,69% pontos dos 500 quilometros da nossa faixa litoranea estão poluidos e 42,85% pontos das praias da capital também, ou seja, impróprias para banhos.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O MENINO E O NATAL

VERSOS DE NATAL

Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!


Mas se fosses mágico,
penetrarias até o fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino que não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera de Natal
Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta.

Manuel Bandeira


FELIZ NATAL

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Um Feliz Natal aos amigos que me acompanham neste blog. Paz, amor, e muita solidariedade neste momento em que famílias inteiras ainda continuam desabrigadas em Santa Catarina.

domingo, 21 de dezembro de 2008

TARDE DE DOMINGO

CENAS DE VERÃO

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Lagoa da Conceição
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FORMIGAS MALUQUINHAS

IDIOTAS DE ESTRADAS

Idiotas de estradas gostam de urinar em morrinhos de formigas. Apreciam de ver as formigas correndo de um canto para o outro, maluquinhas, sem calças, como crianças. Dizem eles que estão infantilizando as formigas. Pode ser.

Manoel de Barros

Do livro O Guardador de Águas - Ed.Civilização Brasileira.

TROFÉU OLÍVIO LAMAS

" Sangue de Torcedor" - foto: Maurício Vieira - 1° lugar
" Os Acorrentados" - foto: Hermínio Nunes - 2°lugar

"Quando os Pit Bulls Dão as Cartas" - foto: James Tavares - 3°lugar
OS PREMIADOS

A cena impressiona: lá está ele, o torcedor aposentado Ivo Costa, com a mão decepada, dois homens o socorrendo e o sangue escorrendo. Seu Ivo foi vítima de um torcedor irresponsável que jogou a bomba e ele, ingenuamente, a segurou. Foi quando o artefato explodiu. A foto – "Sangue de Torcedor" (feita durante a partida entre Criciúma e Avaí) - é do repórter fotográfico Maurício Vieira, do jornal Hora de Santa Catarina e foi vencedor da II Edição do Troféu Olívio Lamas de Fotojornalismo, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais e Associação Catarinense de Imprensa, com o patrocínio da Eletrosul.
A segunda colocada é a foto de Hermínio Nunes, do Diário Catarinense. É também uma foto forte, de denúncia e mostra como são tratados os presos em Santa Catarina. São homens com os pés acorrentados em pilares de uma delegacia em Palhoça, na Grande Florianópolis. James Tavares, do jornal Notícias do Dia, ficou em terceiro lugar com a foto “Quando os Pit Bulls Dão as Cartas” – um carteiro sendo “recepcionado” por dois cães no portão de uma residência.
Os premiados ganharam R$ 3 mil, R$2 mil e R$ 1 mil, respectivamente.
Jessé Giotti (A Notícia, de Joinville), Glaicon Couvre e Hermínio Nunes (ambos do DC) receberam Menções Honrosas. Mais 14 fotos também foram selecionadas pelo júri. No total, 48 imagens foram inscritas, todas de um nível muito bom. Digo isso porque, ao lado de Orestes Araujo, Carlos Pereira e Mauro Ferreira, também fiz parte do júri e levamos um bom tempo para fazer a seleção. O que mostra que cá em Santa Catarina temos ótimos repórteres fotográficos que sabem, com um clic, denunciar, mostrar, e contemplar (há também fotos bonitas) o mundo ao seu redor.
As fotos serão expostas na sede da Eletrosul, em Florianópolis.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A FORÇA DE UM POVO



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Na SC-401 (que leva às praias do norte), o tráfego está funcionando em duas pistas com desvio pelo bairro de Cacupé; ruas dos bairros Campeche, Morro das Pedras, Costeira e Areias do Campeche, todas no sul da Ilha, somente nos últimos dias estão sendo drenadas. Desde a enchente, há 15 dias, várias pessoas continuavam com dificuldades para transitar por lá. Segundo li no DC, a justificativa da Defesa Civil de Florianópolis foi de que só poderiam usar as bombas de drenagem com tempo seco.

Por aqui, portanto, os problemas - mínimos - aos poucos vão sendo sanados. E já dá pra continuar olhando - e fotografando - a ponte Hercílio Luz no final da tarde.

No Vale do Itajaí, há um imenso esforço das vítimas da grande tragédia para voltar ao seu cotidiano. Emocionante ver senhores, mulheres, jovens, trabalhando, varrendo as ruas, voltando às fábricas, recolhendo imensos entulhos, restos do que sobrou de suas casas... Emociona ver como este povo é forte. E à medida que parentes buscam os sobreviventes, ouve-se dramas individuais, muito, mas muito tristes: como daquele homem que, sozinho, perambula pelas ruas de Blumenau. Este homem perdeu toda a família e nada o convence a buscar abrigo nos tantos espalhados pela região. Ou daquele outro que ontem perdeu os pais: teimosos, o casal voltou à casa interditada, em Gaspar, pra dar milho às galinhas. Foram engolidos por um monte de terra que deslizou do morro próximo. Ao filho só restou, com a ajuda dos homens do Corpo de Bombeiros, tentarem encontrar os corpos dos pais.

E os números das vítimas fatais aumentam: 122, até ontem. Mas há 21 pessoas desaparecidas somente em Ilhota, um dos municípios mais duramente atingidos pelas enchentes. Os homens da Força Nacional e do Corpo de Bombeiros continuam por lá, com a triste missão de localizar os mortos. Enquanto isso, outros grupos percorrem a região assinalando as casas irremediavelmente condenadas. Quem recebe um sinal B fica aliviado: sinal de que a casa está boa e pode voltar a ser habitada. Até ontem, mais de 60 tinham sido condenadas.

domingo, 7 de dezembro de 2008

RECOLHIDAS

Tentar ler e não conseguir é bem complicado. Meus olhos voltaram a arder e lá vai colírio, gotinhas, espera, tenta, lágrimas de tanto que ardem... Daí desisti. Mas li o caderno Cultura do Estadão, dei uma olhada na revista Fotografe Melhor(edição de dezembro) e continuei a ler Desonra, do J.M.Coetzze (já estou gostando).
...enquanto isso a Baby achou outro cantinho pra dormir: na cadeira, embaixo da mesa.

Assim foi nosso domingo.
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sábado, 6 de dezembro de 2008

AZUL

foto:elaine borges

LAGOA DA CONCEIÇÃO


Porque hoje é sábado...(lembrando Vinícius).

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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

AVISO DO CÉU

"O governador Luis Henrique faz o possível para ser lembrado como o político que passou para o sucessor um estado de calamidade pública"

A frase é do Marcos Sá Correa, jornalista e editor da revista Piauí , publicada na edição desta semana da revista IstoE que transcrevo:

ESSA CHUVA PODE SER AVISO DO CÉU

O governador de Santa Catarina, Luís Henrique da Silveira, finalmente se convenceu de que anda à solta por aí uma tal de desordem climática. Foi ela, pelo menos, a desculpa que o acudiu para definir o tipo de tragédia que derreteu encostas no Estado e matou dezenas de pessoas. É, governador, essas coisas acontecem.


Talvez sejam em vasta medida inevitáveis. Mas tendem a pegar mais pesado quem estava desprevenido. E, se estiver interessado em conferir o que quer dizer isso, pode folhear o Código Estadual de Meio Ambiente, que sob seu patrocínio está secando, mesmo debaixo de chuva, a caminho da Assembléia Legislativa.

Ele foi saindo cada vez mais torto, à medida que passava por audiências públicas. Pegou o mesmo tipo de resistência que, três anos atrás, defendeu Santa Catarina da criação de parques nacionais em lugares ainda abençoados por florestas de araucárias. Armou-se de dispositivos estranhos, senão agourentos, como a aprovação automática das licenças ambientais, se em 60 dias os técnicos não derem sua palavra final sobre projetos.

Tende a ser uma lei dura. Mas só é dura com aquilo que o governador já chamou na tevê de "oposição meio ambiental". Pode ser coincidência, mas o rascunho está cada vez mais parecido com suas idéias, e, principalmente, com suas idiossincrasias.

Mesmo com a chuva caindo, ele riscou qualquer menção à "vida aquática", na parte referente aos "recursos hídricos". Pois é, trata-se de abrir alas à construção de hidrelétricas. Ele nunca engoliu os argumentos que o impediram de autorizar, como queria, quando prefeito de Joinville, a instalação de uma usina na serra catarinense. E acredita, ou professa, que toda precaução é um instrumento do "medievalismo".

Como nunca esclareceu exatamente o que quer dizer com essa palavra, presume-se que não se trate da Idade Média original, a européia, marcada pela eliminação quase total das florestas no continente, pela transformação dos rios em esgotos fedorentos e por uma guerra milenar contra a fauna silvestre.

O europeu do século XX também se distingue de seus antepassados medievais por ter mais árvores. Ou pela prerrogativa de pescar em rios límpidos no centro de Estocolmo. E até por não dar mais a seus políticos o direito de fazer em público as declarações que o governador faz em entrevistas. Muito menos de governar um Estado que é recordista nacional de devastação da mata atlântica, em nome do "aproveitamento sustentável da natureza" e da ojeriza à "obtusidade".

Não adianta apontar para o céu. As chuvas podem fazer grandes estragos, mas dão e passam. Como nenhuma chuva chove dois mandatos, quase sempre há tempo de sobra para apagar os sinais deixados por sua passagem antes que venha a inundação seguinte. E as obras feitas aqui embaixo tendem a durar mais do que as pessoas que as deixaram.

E, na batida em que vai, o governador Luís Henrique está fazendo o possível para ser lembrado como o político que tomou posse de um Estado invejado nacionalmente pela beleza natural e passou para o sucessor um estado de calamidade pública.

MAIS DOAÇÕES

A Defesa Civil de Santa Catarina retomou hoje à tarde o recebimento de doações. No dia anterior, eles haviam solicitado, em nota oficial, que não enviassem mais doações, mas hoje conseguiram se reestruturar e estão utilizando os armazéns das Secretarias de Desenvolvimento Regionais dos municípios de Criciúma, Ararangua, Joinville, Blumenau, Brusque, Itajaí, Timbó e Jaraguá do Sul para estocar roupas, mantimentos e remédios. Também as doações em dinheiro continuam sendo solicitadas. Caberá ao Ministério Público de Santa Catarina e ao Tribunal de Contas fiscalizarem a distribuição das doações que estão sendo depositados em nove contas bancárias (cerca de R$ 16 milhões até agora). 14 municípios continuam em estado de calamidade pública.

BOA VIDA

BRIGITTE
foto:elaine borges

Ela foi chegando, de mansinho, às vezes ficava escondida, sumia... Até que, aquela bolinha de pelos pretos e olhos verdes, um charme só, um dengo que só ela tem, decidiu ficar. E lá mora a pequena gatinha, meiga e nada arisca. É uma felina esperta: escolheu aquele cantinho pra viver e já é dona do pedaço. É só carinho, e, ao contrário da minha Bibi, gosta de um colinho! Esta é a bela e meiga Brigitte.
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MUITO OBRIGADO

Ontem a Defesa Civil solicitou que, por enquanto, não mandem mais doações para as áreas atingidas pelas chuvas. Os responsáveis pelo controle e distribuição das doações informaram que a mobilização, a solidariedade e apoio dos brasileiros superou todas as expectativas. Ontem havia necessidade de mais voluntários para organizar os produtos que, durante 13 dias após o desastre, foram enviados para Santa Catarina. No total, foram doados cerca de 2 milhões de quilos de alimentos, 1,5 milhão de litros de água, mais de 100 toneladas de roupas, brinquedos e materiais de higiene pessoal, entre outros itens. Em nove contas bancárias foram doados R$ 16,2 milhões. Esse dinheiro será destinado aos municípios atingidos para reaquecer a economia. Emocionados com tanta solidariedade os integrantes das equipes da Defesa Civil diziam: "Só temos que ressaltar o nosso muito obrigado".

TRISTE ESTATÍSTICA

Subiu para 118 o número de pessoas que perderam a vida nas enchentes e deslizamentos em Santa Catarina. A Defesa Civil informou que a vítima era morador de Timbó e o corpo foi encontrado soterrado. Há ainda, segundo estatísticas oficiais, 31 desaparecidos. Desde ontem, com a volta do sol, parte da população das áreas atingidas começaram a voltar às suas casas, baixando para 32.769 o número de desabrigados e desalojados

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

REFLEXÕES SOBRE A TRAGÉDIA EM SC

Professores de Universidades Catarinenses publicaram ontem uma reflexão sobre a tragédia em Santa Catarina e pedem apoio para enviar o documento ás autoridades competentes. É só acessar o site do Comitê Itajai.

Eis o texto:

As imagens de morros caindo, de desespero e morte, de casas, animais e automóveis sendo tragados por lama e água, vivenciadas por centenas de milhares de pessoas no Vale do Itajaí e Litoral Norte Catarinense nos últimos dias, são distintas, e muito mais graves, das experiências de enchentes que temos na memória, de 1983 e 1984.Por que tudo aconteceu de forma tão diferente e tão trágica? Será que a culpa foi só da chuva, como citam as manchetes? Nossa intenção não é apontar culpados, mas mencionar alguns fatos para reflexão, para tentar encaminhar soluções mais sábias e duradouras, e evitar mais e maiores problemas futuros.



Houve muita chuva sim. No médio vale do Itajaí ocorreu mais que o dobro da quantidade de chuva que causou a enchente de agosto de 1984. Aquela enchente foi causada por 200 mm de chuva em todo o Vale do Itajaí. Agora, em dois dias foram registrados 500 mm de precipitação, ou seja, 500 litros por metro quadrado, mas somente no Médio Vale e no Litoral.A quantidade de chuva de fato impressiona.



Segundo especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), a floresta amazônica é a principal fonte de precipitações de grande parte do continente e tudo o que acontecer com ela modificará de maneira decisiva o clima no Sul e no norte da América do Sul. Assim, as inundações de Santa Catarina e a seca na Argentina seriam atribuídas à fumaça dos incêndios florestais, que altera drasticamente o mecanismo de aproveitamento do vapor d'água da floresta amazônica.



Outros especialistas discordam dessa hipótese e afirmam que houve um sistema atmosférico perfeitamente possível no Litoral Catarinense.Existe uma periodicidade de anos mais secos e anos mais úmidos, com intervalo de 7 a 10 anos, e entramos no período mais úmido no ano passado. Esse mecanismo faz parte da dinâmica natural do clima. De qualquer forma, outros eventos climáticos como esse são esperados e vão acontecer.



Mas o Vale do Itajaí sabe lidar com enchentes melhor do que qualquer outra região do país. Claro que muito pode ser melhorado no gerenciamento das cheias, à medida que as prefeituras criarem estruturas de defesa civil cada vez mais capacitadas e à medida que os sistemas de monitoramento e informação foremsendo aperfeiçoados.De todos os desastres naturais, as enchentes são os mais previsíveis, e por isso mais fáceis de lidar.



Os deslizamentos e as enxurradas não. Esses são praticamente imprevisíveis, e é aí que reside o real problema dessa catástrofe.É preciso compreender que chuvas intensas são parte do clima subtropical em que vivemos. E é por causa desse clima que surgiu a mata atlântica. Ela não é apenas decoração das paisagens catarinenses, tanto como as matas ciliares não existem apenas para enfeitar as margens de rios. A cobertura florestal natural das encostas, dos topos de morros, das margens de rios e córregos existe para proteger o solo da erosão provocada por chuvas, permite a alimentação dos lençóis d´água e a manutenção de nascentes e rios, e evita que a água da chuva provoque inundações rápidas (enxurradas).



A construção de habitações e estradas sem respeitar a distância de segurança dos cursos d'água acaba se voltando contra essas construções como um bumerangue, levando consigo outras infra-estruturas, como foi o caso do gasoduto. Esse é um dos componentes da tragédia.Já os deslizamentos, ou movimentos de massa, são fenômenos da dinâmica natural da Terra. Mas não é o desmatamento que os causa. A chuva em excesso acaba com as propriedades que dão resistência aos solos e mantos de alteração para permanecerem nas encostas.



O grande problema de ocupar encostas é fazer cortes e morar embaixo ou acima deles. Há certas encostas que não podem ser ocupadas por moradias, principalmente as do vale do Itajaí, onde o manto de intemperismo, pouco resistente, se apresenta muito profundo e com vários planos de possíveis rupturas (deslizamento), além da grande inclinação das encostas. E é aí que começa a explicação de outra parte da tragédia que estamos vivendo.



A ocupação dos solos nas cidades não tem sido feita levando em conta que estão assentadas sobre uma rocha antiga, degradada pelas intempéries, e cuja capacidade de suporte é baixa. Através dos cortes aumenta a instabilidade. As fortes chuvas acabaram com a resistência e assim o material deslizou.A ocupação do solo é ordenada por leis municipais, os planos diretores urbanos. Esses planos diretores definem como as cidades crescem, que áreas vão ocupar e como se dá essa ocupação. Por falta de conhecimento ecológico dos poderes executivo, judiciário e legislativo (ou por não leva-lo em consideração), o código florestal tem sido desrespeitado pelos planos diretores em praticamente todo o Vale do Itajai, e também no litoral catarinense, sob a alegação de que o município é soberano para decidir, ou supondo que a mata é um enfeite desnecessário.



Da mesma forma, as encostas têm sido ocupadas, cortadas e recortadas, à revelia das leis da Natureza.Trata-se de uma falta de compreensão que está alicerçada na idéia, ousada e insensata, de que os terrenos devem ser remodelados para atender aos nossos projetos, em vez de adequarmos nossos projetos aos terrenos reais e sua dinâmica natural nos quais irão se assentar.A postura não é diferente nas áreas rurais, onde a fiscalização ambiental não tem sido eficiente no controle de desmatamentos e intensidade de cultivos em locais impróprios, como mostram as denúncias frequentes veiculadas nas redes que conectam ambientalistas e gestores ambientais de toda região.



A irresponsabilidade se estende, portanto, para toda a sociedade.Deslizamentos, erosão pela chuva e ação dos rios apresentam fatores condicionantes diferentes, mas todos fazem parte da dinâmica natural. A morfologia natural do terreno é uma conquista da natureza, que vai lapidando e moldando a paisagem na busca de um equilíbrio dinâmico. Erode aqui, deposita ali e assim vaiconquistando, ao longo de milhões de anos, uma estabilidade dinâmica.



O que se deve fazer é conhecer sua forma de ação e procurar os cenários da paisagem onde sua atuação seja menos intensa ou não ocorra.As alterações desse modelado pelo homem foram as principais causas dos movimentos de massa que ocorreram em toda a região. Portanto, precisamos evoluir muito na forma de gestão urbana e rural e encontrar mecanismos e instrumentos que permitam a convivência entre cidade, agricultura, rios eencostas.



Por isso tudo, essa catástrofe é um apelo à inteligência e à sabedoria dos novos ou reeleitos gestores municipais e ao governo estadual, que têm o desafio de conduzir seus municípios e toda Santa Catarina a uma crescente robustez aos fenômenos climáticos adversos. Não adianta reconstruir o que foi destruído, sem considerar o equívoco do paradigma que está por trás desse modelo de ocupação. É necessário pensar soluções sustentáveis.



O desafio é reduzir a vulnerabilidade.Uma estranha coincidência é que a tragédia catarinense ocorreu na semana em que a Assembléia Legislativa concluiu as audiências públicas sobre o Código Ambiental, uma lei que é o resultado da pressão de fazendeiros, fábricas de celulose, empreiteiros e outros interesses, apoiados na justa preocupação de pequenos agricultores que dispõe de pequenas extensões de terra para plantio.



Entre outras propostas altamente criticadas por renomados conhecedores do direito constitucional e ambiental, a drástica redução das áreas de preservação permanente ao longo de rios, a desconsideração de áreas declivosas, topos de morro e nascentes, além da eliminação dos campos de altitude (reconhecidas paisagens de recarga de aqüíferos) das áreas protegidas, são dispositivos que aumentam a chance de ocorrência e agravam os efeitos de catástrofes como a que estamos vivendo. Alega o deputado Moacir Sopelsa que a lei ambiental precisa se ajustar à estrutura fundiária catarinense, como se essa estrutura fundiária não fosse, ela mesma, um produto de opções anteriores, que negligenciaram a sua base de sustentação.



Sugerimos que os deputados visitem Luiz Alves, Pomerode, Blumenau, Brusque, só para citar alguns municípios, para aprender que a estrutura fundiária e a urbana é que precisam se ajustar à Natureza. Dela as leis são irrevogáveis e a tentativa de revogá-las ou ignorá-las custam muitas vidas e dinheiro público e privado.É hora de ter pressa em atender os milhares de flagelados.



Não é hora de ter pressa em aprovar uma lei que torna o território catarinense ainda mais vulnerável para catástrofes naturais.



Prof. Dra. Beate Frank (FURB, Projeto Piava)

Prof. Dr. Antonio Fernando S. Guerra (UNIVALI)

Prof. Dra. Edna Lindaura Luiz (UNESC)

Prof. Dr. Gilberto Valente Canali (Ex-presidente da Associação Brasileira de Recursos Hídricos)

Prof. Dr. Hector Leis (UFSC)

João Guilherme Wegner da Cunha (CREA/CONSEMA)

Prof. Dr. Juarês Aumond (FURB)

Prof. Dr. Julio Cezar Refosco (FURB)

Prof. Dr. Lino Fernando Bragança Peres (UFSC)

Prof. Dra. Lúcia Sevegnani (FURB)

Prof. Dr. Luciano Florit (FURB)

Prof. Dr. Luiz Fernando P. Sales (UNIVALI)

Prof. Dr. Luiz Fernando Scheibe (UFSC)

Prof. Dr. Marcus Polette (UNIVALI)

Prof. Dra. Noemia Bohn (FURB)Núcleo de Estudos em Serviço Social e Organização Popular - NESSOP (UFSC)

Prof. Dra. Sandra Momm Schult (FURB)

Equipe do Projeto Piava (Fundação Agência de Água do Vale do Itajaí).

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

JUAN MIRÓ

"L'oiseau au plumage deployé vole vers l'arbre argenté"

Um pequeno intervalo, um suspiro, um descanso. E com Miró isso é possível. Sua imagens, quase infantis, suas cores, seu traço, nos conduzem a um outro mundo. Um mundo do lúdico, da cor... Miró nos conduz a um outro jeito de olhar, de contemplar. Com ele não é preciso raciocinar. Basta olhar e sorrir.
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segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O SOL VOLTOU

Lagoa da Conceição
foto:elaine borges
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INSENSIBILIDADE

Domingo à noite vi uma bela iniciativa: o programa SOS Santa Catarina transmitido pela TV Cultura de S.Paulo, da Fundação Padre Anchieta. Vários cantores lá estiveram – Ed Motta, Leci Brandão, entre outros – e o ingresso eram doações para o povo cá de nosso Estado que está sofrendo muito com a tragédia que se abateu especialmente nos municípios do Vale do Itajaí.
Mas houve um momento vergonhoso: foi quando, chamado para falar sobre o que ocorria em Santa Catarina, o prefeito de Florianópolis, Dario Berger, disse que cá na Ilha os prejuízos eram poucos - o deslizamento de parte de um morro na SC-401, estrada que leva às praias do norte - e conclamou o povo de S. Paulo a fazer turismo porque até o início da temporada de verão tudo estaria funcionando.


A pergunta indignada é: onde fica a solidariedade? Basta percorrer alguns quilômetros em qualquer direção para ver o drama de milhares de catarinenses. São 114 mortes, 80 mil desabrigados, 5.000 casas destruídas em Blumenau e 350, sem condições de reforma, serão demolidas. O bairro Garcia continua interditado porque há riscos de desmoronamentos. Famílias começam a enterrar seus mortos. O hospital de campanha do exército já está funcionando às margens da BR-101, próximo a Itajaí, com capacidade para atender 400 pessoas... Ou seja, há muitos dramas, muitas famílias atingidas pelas inundações e deslizamentos e o prefeito conclamando todos a fazer turismo em Florianópolis. E nenhuma palavra de apoio às vítimas, seus conterrâneos. Foi uma demonstração de insensibilidade do prefeito que, aliás, pouco apareceu nesses trágicos dias que a população de Santa Catarina está vivendo.