quarta-feira, 31 de março de 2010

DESAFIANDO O PERIGO

foto: elaine borges

Cenas como esta - registrada hoje de manhã - têm sido comuns em Florianópolis: operários trabalhando nos andares mais altos dos prédios sem as mínimas condições de segurança.

SALVE A LAGOA - VITÓRIA PARCIAL

Lagoa da Conceição - foto: elaine borges

Vitória parcial! Está mais do que confirmado que quando há manifestações organizadas das mais diversas entidades, de líderes das comunidades, das ONGs, de pessoas preocupadas com o futuro de Florianópolis, os resultados aparecem. A boa notícia é esta: o prefeito Dario Berger adiou a entrega do Plano Diretor ao presidente da Câmara de Vereadores, Gean Loureiro. A decisão de adiar a entrega do projeto (que deveria ocorrer ontem) foi tomada devido às inúmeras manifestações das entidades que querem mudar e aprimorar o Plano Diretor. Segundo o prefeito, uma comissão especial será formada para receber sugestões das entidades e com a possibilidade de haver mais discussões em audiências públicas. Portanto, o prazo para entrega do Plano Diretor com as devidas modificações (espero) não tem data definida.

O movimento Salve a Lagoa vai continuar enquanto o item que trata da permissão para construir prédios de mais de dois andares não for revisado. O abaixo assinado já conta com mais de 3.000 assinaturas. Se você ainda não assinou, vá lá no http://www.salvealagoa.org.br/abaixo-assinado e manifeste sua opinião.

Mais informações também podem ser encontradas no site http://www.salvealagoa.org.br/ e no twitter http://twitter.com/salvealagoa

segunda-feira, 29 de março de 2010

SALVE A LAGOA

Lagoa da Conceição - foto: elaine borges

Que futuro queremos para Florianópolis? Não é este que consta no Plano Diretor que será apresentado amanhã à Câmara Municipal. Nele consta a permissão para construir prédios de quatro andares em toda a Lagoa da Conceição e de até doze no Campeche. Há dez anos, houve tentativas de aumentar o número de andares na Lagoa, a comunidade reagiu, um projeto de lei foi aprovado pela Câmara e sancionado pela então prefeita, Ângela Amin. Até hoje é proibido construir prédios com mais de dois andares em um dos mais belos recantos da Ilha.

Agora, fortes grupos econômicos, apoiados por políticos e legisladores municipais, defendem um Plano Diretor visando somente seus interesses. Esse não é o Plano “participativo” que as comunidades ajudaram a elaborar. O novo Plano foi feito por uma empresa contratada pela prefeitura. Mas uma parcela expressiva da população está mobilizada – entre elas a Associação dos Moradores da Lagoa da Conceição (AMOLA) - na luta contra mais essa tentativa de destruir nossos recursos naturais, aumentar o gabarito dos prédios, ocupar áreas de preservação limitada nas encostas dos morros...

O futuro que queremos para Florianópolis não é este. Queremos a manutenção da qualidade de vida (que já foi melhor); queremos um crescimento ordenado, equilibrado e não a exploração de nossos recursos naturais. Nossas belezas naturais devem ser preservadas. Queremos praias limpas, transporte urbano organizado... Como permitir prédios com mais andares se apenas 10% de Florianópolis tem esgoto sanitário? Se o sistema de distribuição de água potável é deficiente?

O movimento Salve a Lagoa está distribuindo um abaixo-assinado através da internet. Se você é um daqueles que se preocupa com o futuro de Florianópolis vá lá, assine, manifeste sua opinião.

sábado, 27 de março de 2010

HORA DO PLANETA

Ponte Hercílio Luz na escuridão - (foto: elaine borges)

O gesto é simbólico: para chamar a atenção da luta contra o aquecimento global, inúmeros monumentos mundiais, como a Torre Eiffel, em Paris, as três pirâmides do Egito, a Ópera de Sydney, a Fontana di Trevi, em Roma, permaneceram na noite deste sábado uma hora na escuridão. Foi a Hora do Planeta. Nós, cá na Ilha, também aderimos e nosso maior símbolo - a ponte Hercílio Luz - também ficou às escuras.

Foi o segundo ano que o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) organiza essa manifestação. No ano passado, a adesão foi de 88 países. Neste ano, 4 mil cidades de 125 países aderiram. Em Florianópolis, também as luzes da Praça XV foram apagadas. É mais uma manifestação para que líderes do mundo entrem em acordo para diminuir o aquecimento global. O gesto é simbólico. Há quem considere uma bobagem, mas continuo mantendo minha esperança, tanto que até as luzes do meu apartamento eu apaguei.

sexta-feira, 26 de março de 2010

CHUVA

foto: elaine borges

Estamos no outono. Nesta época, o tempo costuma ser maravilhoso: as cores mais suaves, calor ameno... Não é o que está acontecendo. A enxurrada das últimas horas causou problemas na região da Grande Florianópolis. Ontem, um pouco antes da meia-noite, a chuvarada já era forte e da minha janela pouco via a ponte Hercílio Luz. Segundo a Defesa Civil, há 500 pessoas desabrigadas, 400 em Antonio Carlos e 100 em Palhoça. Em São José, um homem morreu quando tentava atravessar um córrego. E a previsão é de que virá mais chuva nas próximas horas.


quarta-feira, 24 de março de 2010

FLORIANÓPOLIS, A SEMPRE AMADA


fotos: elaine borges

As declarações de amor à Florianópolis continuam. Tendo recebido várias manifestações de carinho por essa cidade tão maravilhosa, volto ao assunto. Duas amigas mandaram comentários. Outros (as) enviaram os textos deste blog para amigos distantes que também são encantados por nossa Ilha. E relendo o livro "Ilha de Santa Catarina - Relatos de Viajantes Estrangeiros Nos Séculos XVIII e XIX (edição da Assembléia Legislativa de SC/1979)" transcrevo outros trechos destes relatos. Passados mais de dois séculos desde que os viajantes por aqui passaram, a paisagem mudou, mas a Ilha - apesar dos maltratos - ainda é mágica. Até quando?

CASAS SIMPLES E ELEGANTES

(*) A maior parte dos habitantes da Ilha de Santa Catarina, e mesmo os da terra firme, dedicam-se à pesca: a baía fica às vezes coberta de suas rudes pirogas, manobradas cada uma por dois homens. Os peixes são tão abundantes, sobretudo uma espécie de peixe seco que eles chamam de "alvacore", que transborda em suas embarcações. Estes peixes servem como alimento à população e costumam dissecá-los sobre grades em volta de suas cabanas para a exportação em barcos de cabotagem. O interior das casas, sob o telhado, está quase sempre guarnecido de centenas destes peixes secos ao sol, e o odor que exala daí não é nada agradável para um europeu...

As casas vão até dois andares; a maior parte não tem mais que um, e existem muitas ao mesmo nível. Elas são construídas de pedra; o granito que compõe a soleira e o arco de abóbada das portas, empresta-lhes um certo luxo. Estão separadas com tabique e assoalhadas com planchas de madeira da região; seu interior é simples, asseado e elegante, mas sem luxo. As ruas são geralmente retas e sem calçadas. Não existe mais que uma praça, bastante grande, chamada "Santa Catarina"....Está também situado nesta praça o mercado, que funciona uma vez por semana, aos domingos.

(*) René Primevère Lesson foi o naturalista e participou da expedição comandada por Duperrey que navegou no "Coquille". Aportou em Santa Catarina em 16 de outubro de 1822 e aqui permaneceu 14 dias.

VISÃO EXTASIANTE

(*) De qualquer lado onde se ponham os pés na Ilha de Santa Catarina, descobrem-se sempre novas ocasiões para se extasiar ante a visão de inesgotável fecundidade da natureza. As florestas impenetráveis que cobrem as montanhas se prolongam por toda parte onde o cultivo não põe fim a seus progressos, conservando os vegetais cujas espécies são tão variadas como notáveis, por tratamentos que caracterizam suas diferenças.

Entre os pássaros, um dos mais belos desta região é a arara azul, cuja parte sob o corpo é de um amarelo puro ouro. Estes soberbos pássaros, assim como todos aqueles da espécie a que pertencem, não voam em grupos como os papagaios; estão quase sempre em casais e vê-se raramente seis ou oito juntos. Eles se agitam e gritam assim que eles percebem alguém. Situam-se de preferência sobre as grandes árvores, escolhendo os galhos mais altos para se empoleirar, sem contudo alcançarem o cimo destas árvores. Os frutos das palmeiras e das árvores selvagens das florestas constituem sua alimentação.

(*) Louis Choris, desenhista, participou da expedição do russo Kotebue ao redor do mundo, a qual chegou a Santa Catarina em 1815, tendo publicado, quatro anos mais tarde, o "Voyage pitoresque autour du monde" com outros companheiros de viagem.

ALEGRIAS E PREOCUPAÇÕES

Minha história é muito semelhante à de Elaine, autora do texto que transcrevo. Ela, admirável jornalista que é, tem muito melhor trato que eu, com as letrinhas e palavras. Elaine atravessou a ponte Hercílio Luz pela primeira vez em 1971. Eu em 1966. Decidi: aqui quero estudar, aqui quero viver e trabalhar. Para cá vim em 1968, e já se completaram 42 anos. As origens são diferentes: Elaine deixa a capital gaúcha, na época expoente econômico e cultural da região sul e eu Rio do Sul, modesta cidadezinha do interior catarinense. As alegrias e as preocupações de Elaine são minhas, e acredito de todos que amam esta cidade que completa seus 284 anos. Apesar e acima de tudo: eu também te amo Florianópolis! Parabéns! (Hella - professora aposentada).

Nossa cidade me parece está muito próxima do caos. Em geral as pessoas querem morar aqui, mas não desejam se envolver com suas questões, principalmente as classes política e de dirigentes.(Anônima).

terça-feira, 23 de março de 2010

PORQUE AMO FLORIANÓPOLIS



Fotos: elaine borges

Uma maravilha, bela, linda! Basta perguntar por que amam Florianópolis e todos, sem exceção, falam da sua imensa beleza, da paisagem, do mar...

Esse encantamento por Florianópolis vem de longe. Urey Lisiansky, navegador russo e capitão do navio ‘Neva’ que passou pela então Vila Nossa Senhora do Desterro, em fevereiro de 1804, descreveu assim o que viu. (*):

- O verde luxuriante e a rica fertilidade desta ilha favorecida, forma um singular contraste com o elemento circunvizinho. Observam-se por toda a costa laranjais e limoeiros, montanhas coroadas de árvores frutíferas, vales, planícies e campos espargidos de plantas aromáticas e belíssimas flores, que parecem brotar espontaneamente; nossas vistas tornaram-se encantadas com a paisagem. O clima é suave e sadio e, enquanto nosso olfato se deleita com os perfumes que o embalsamam, o ouvido, em tranqüilo êxtase, escuta o gorjeio de numerosos pássaros que parece terem escolhido este bonito lugar para sua moradia. Todos os sentidos, em suma, são gratificados; tudo o que vimos, escutamos ou sentimos, abre o coração para sensações encantadoras. Estas fascinantes costas podem ser reconhecidas como a Natureza própria do paraíso; tão pródigas em generosidades que são favorecidas por uma eterna primavera. (*)

O Barão Georg Heinrich Von Langsdorf era médico e estudioso de história natural, juntou-se à expedição russa que navegou ao redor do mundo e chegou à Santa Catarina em dezembro de 1803, onde permaneceu até fevereiro de 1804.

Eis o relato de Langsdorf, um observador da natureza: - A visão de qualquer terra, ou mesmo do rochedo mais estéril, é encantadora após uma viagem marítima de dois meses: ainda mais quando é o caso de uma terra que foi agraciada pela natureza em todos os sentidos, uma terra onde tudo viceja com inexcedível beleza e garbo imagináveis. – Da praia, junto ao mar, emergia uma paisagem maravilhosa, onde o verde das montanhas sobressaía mais pela coloração rubra do sol poente.

(...) A floração tão variada em cores, tamanho, constituição e variedade, exalavam na atmosfera uma mistura de perfume agradável, que a cada inspiração fortificava o corpo e vivificava o espírito.
(...) Borboletas enormes que até então só havia visto em nossos gabinetes europeus, voavam em torno de múltiplas plantas em flor, jamais vistas, ou apenas em estufas e que aqui se desenvolviam. Colibris dourados sugavam as flores açucaradas da bananeira e o canto desconhecido de pássaros ecoava nos vales bem irrigados, deleitando o coração e ouvido. (*)

Hoje, quando Florianópolis comemora 284 anos, aquele paraíso dos viajantes estrangeiros não mais existe. Os relatos dos que aqui moram (ou moraram), ou porque aqui nasceram ou escolheram a terrinha para viver, apontam o desrespeito ao meio-ambiente e temem pelo futuro da cidade. Mas todos destacam a beleza, a paisagem, o mar, ou seja, Florianópolis ainda é uma cidade maravilhosa, apesar de tudo.

Abaixo, a opinião de amigos (anônimos ou não) a quem perguntei por que amavam tanto Florianópolis e expectativas sobre seu futuro:

- Eu amo viver em Florianópolis por vários motivos: cresci e amadureci aqui, joguei taco no meio da rua, soltei pipa, vi o mar pela primeira vez ali em Itaguaçu, estudei no IEE e na UFSC, e o mais importante: meus melhores amigos estão aqui. Sonho, e sei que é possível sonhar, com uma cidade cosmopolita, mas, apegada a natureza, a harmonia e a paz. (Maria José Baldessar – jornalista).

- Morei em Floripa na década de 80 e foi um dos períodos mais felizes de minha vida. Me deslumbrava com cada canto da cidade. Com as praias, então... Cultivei amigos, que conservo até hoje, e lembranças que guardarei para sempre. Era uma cidade pequena e aconchegante. Hoje, na mesma geografia,, virou uma metrópole. Imagino que deva ser mais difícil viver por aí. Sei dos problemas, do desrespeito ao meio ambiente. O blog da Elaine está sempre mostrando as sandices dos homens públicos e privados! Mas espero um pouco de bom senso de todos. O suficiente para eu poder curtir a minha aposentadoria nesta Ilha maravilhosa!(Marise Fetter, jornalista - Porto Alegre).

- Acho que poderá voltar a ser habitável, sim. É só poluirmos menos, pouparmos as praias, os morros, mangues e brejos de tanta nova construção, organizarmos a entrada (turismo) e planejarmos o futuro, no que diz respeito à circulação (acessos, vias e pontes), uma vez que pouco se fala (e menos se faz) quanto a isto. Bom, amo morar em Florianópolis por causa do mar e da total liberdade de paisagem. (Saint-Clair Monteiro – jornalista)

- Amo Florianópolis, apesar das ruas esburacadas, da violência crescente, da politicagem (porque para mim política tem outro sentido) da pobreza que se alastra nos morros, da péssima infraestrutura, enfim por tudo o que ela já foi e que não é mais. (Anônimo).

- Cheguei aqui no início de 1972, vindo de Blumenau, onde estava trabalhando no Jornal de Santa Catarina que recém ajudara a fundar. Para eu me encantar com a cidade que ainda não conhecia bastou um domingo ensolarado e um passeio pelas baías no barco do Adolfo Ziguelli na companhia de outro jornalista, o Airton Kanitz. Voltei a Blumenau só para arrumar a mala e pedir demissão do JSC. Daquele tempo de encantamento até hoje acompanhei com tristeza a destruição de Florianópolis, vítima da ganância, da corrupção desenfreada em todos os níveis, e da incompetência dos nossos governantes. Hoje vivemos encurralados em casa pela falta de segurança, impossibilitados de aproveitar as belezas naturais que ainda nos restam e, pior, sem ter o que fazer diante de um legislativo municipal inoperante e comprometido com interesses escusos. A cidade que aprendi a amar não existe mais. Está contaminada como o resto do país, não há para onde fugir. (Mário Medaglia – jornalista)

- Tenho uma forte razão para amar imensamente Florianópolis: ela é minha bela e charmosa terra natal. Venho, através dos anos, acompanhando, com bastante aflição, os impiedosos maltratos e sua constante destruição por grupos de gananciosos e exploradores. Infelizmente, não vislumbro um bom futuro para esta tão molestada cidade; as lembranças que tenho dela, há mais ou menos seis décadas, descrevo, com saudades, para familiares e amigos que não a conheceram na época em que era uma formosa Ilha. (Anônimo).

- Amo Florianópolis porque aqui viemos morar quando casamos (pasme! em 1966!!!), e vivemos anos felizes cercados por essa natureza linda e abençoada que temos; aqui nasceram meus filhos que também a amaram e amam.
- O crescimento urbano alucinado e, em larga medida, predatório é uma preocupação constante. Quando teremos políticos e administradores sensíveis às necessidades de preservação do meio ambiente da ilha e de seus delicados ecossistemas e dispostos a enfrentar poderosos interesses econômicos que visam tão somente o próprio lucro? Será que é possível ter esperanças? Parece difícil...
(Anônimo)

- Apesar de ser manezinha e ter uma lista enorme de motivos para amar morar na Ilha de Santa Catarina, vou destacar o que considero principal: a energia do lugar, que é algo inquestionável, inenarrável, indescritível.
Vai ser necessária muita conscientização dos políticos (que devem preocupar-se mais com políticas públicas na área urbana/ambiental), dos manezinhos e, principalmente, das pessoas que vem de fora e que não conseguem (ou não querem) sentir-se parte da “terra” e, por isso, não cuidam dela. Já que, hoje, o manezinho é minoria na Ilha. Mas eu nunca vou perder a esperança
! (Mylene Margarida – jornalista).

(*) Do livro Ilha de Santa Catarina - relatos de Viajantes Estrangeiros nos Séculos XVIII e XIX (edição Assembléia Legislativa SC/1979).

domingo, 21 de março de 2010

UMA GATA E SEUS MOMENTOS




fotos: elaine borges

Sábado fiquei assim, vendo televisão (a novela Viver a Vida está chatíssima). Hoje de manhã preferi permanecer um pouco na porta do escritório enquanto minha amiguinha de duas patas teclava algumas coisas no computador (não sei o que porque ainda não leio, infelizmente). Às vezes espichava o corpo e olhava, e lá estava ela, sempre na frente do computador. Depois, pulei na mesa e passei bem devagarinho, e com o maior cuidado, atrás do monitor. Ela viu, é claro, mas esperou que eu saísse e continuou ali, desta vez ouvindo música - Jacques Loussier Trio - Baroque Favorites (sei o nome porque ela leu em voz alta).

E assim vou curtindo minha vidinha cá no meu mundo. Mundo que, sempre que possível, divido com minha amiguinha que mora comigo. Deveria dizer o contrário: eu é que moro com ela. Mas não é bem assim. Nós, gatos - ou gata, como é meu caso - tomamos conta do pedaço e vamos logo definindo as regras. Querem um exemplo: de manhã, ao sair do meu canto (ultimamente tenho preferido dormir na cadeira da sala, embaixo da mesa) espero minha amiga levantar (sempre muiiito tarde) e logo vamos fazer minha higiene pessoal que curto demais, principalmente as longas escovadelas nos meus pêlos. Como voces já perceberam, tenho muitos pêlos e gosto quando ela passa aquela escova cheia de pontas ao longo do meu corpo. É uma delícia! Em seguida, minha amiga troca a água, enche meu prato de ração e lá fico, me alimentando e me preparando para o longo dia que me espera. Dali, vou para a janela da sala e fico alguns minutos olhando o movimento lá fora. Vejo alguns passarinhos, que - bem sei - não conseguirei jamais caçá-los: uma rede nos separa. Uma pena!

Depois desse rápido recreio, lá vou eu pra minha cadeira-cama e fico praticamente o dia inteiro. Só saio quando vejo minha amiguinha almoçando, ou comendo alguma coisa. Aí me aproximo, dou umas leves unhadas (sem machucá-la) nas suas pernas e espero. Mas nem sempre gosto do que ela come. Na maioria das vezes prefiro mesmo a minha ração (light porque estou meio gordinha).

E assim é minha vidinha: tranquila, sempre bem alimentada e muito bem amada. Sei disso pelas imensas demonstrações de carinho que recebo da minha amiguinha de duas patas.

sexta-feira, 19 de março de 2010

PARABENS, FLORIANÓPOLIS!

foto: elaine borges

A primeira fez que atravessei a ponte Hercílio Luz foi em 1971. Descobri ali, naquele momento, que aquela era a Ilha que eu queria morar. Fui arrebatada por tanta beleza, tanto mar, tanta luz, sons, um jeito bonito do povo falar, uma maneira estranha, às vezes, mas que gostava e gosto até hoje de ouvir. E até hoje eu ainda não entendo direito os diálogos entre os nativos, os que moram na Barra da Lagoa, no Ribeirão, no Pântano do Sul... Eles dizem "dex prax duax", assim, substituindo o S por X e acho lindo o som. É diferente o falar ilhéu e torço para que esse sotaque nunca seja esquecido. Ao desembarcar na rodoviária, amei caminhar ao longo da Avenida Hercílio Luz (a rodoviária era ali), dobrar à esquerda e chegar à Praça XV. Vi os casarões, a figueira, a catedral e o palácio, sede do governo estadual (quem governava na época era Colombo Machado Salles). Vi um povo simples circulando por lá, atravessei a praça e cheguei à rua Felipe Schmidt, percorri outras ruas centrais, andei pela Conselheiro Mafra... A cidade era também minha, foi essa a sensação primeira.


A segunda vez que atravessei a ponte Hercílio Luz já trazia na mala minhas roupas, meus discos, meus livros e muito mais. Trazia tudo aquilo que - sabia - seriam importantes para viver em uma nova capital, tão diferente daquela que eu deixara pra trás. Trazia fotos, textos, matérias publicadas no jornal O Globo, do Rio. Aquilo, aqueles textos, eram meu "currículo". Em maio de 1972 eu já estava trabalhando no jornal O Estado. E logo descobri: não mais voltaria à minha terra natal. Havia descoberto outra terrinha e a adotei imediatamente.


Nesse tantos anos que aqui moro, vi a cidade ir se transformando. Vi a construção da avenida Beira mar norte, das rodovias ligando o centro às regiões norte, sul, leste...Vi a substituição dos paralelepípedos que cobriam a rodovia que leva à Lagoa da Conceição por asfalto. Vi a construção dos tantos prédios que hoje se espalham pela cidade. Vi Florianópolis se transformando. Mas, o que é pior, também vi e vejo a deteriorização de uma cidade. Vejo agressões ao meio ambiente, a poluição das praias, a ocupação desordenada dos espaços urbanos, casas surgindo junto ao mar... Vejo os mangues sendo cobertos por edifícios, viadutos... Vejo ruas cobertas por asfalto dificultando o escoamento das águas das chuvas...


Ah, quanta tristeza quando vejo a cidade que escolhi pra viver sendo tão maltratada! Florianópolis ainda é uma cidade maravilhosa. Na terça-feira vai completar 284 anos. Temos ainda o que comemorar? Sim, ainda temos. A cidade é bela, mágica, encantadora. Mas querem destruí-la ainda mais. O novo Plano Diretor que vai ser encaminhado à Câmara de Vereadoras é um total desrespeito às comunidades que durante três anos apresentaram sugestões de como gostariam que a cidade fosse planejada.


Querem permitir a construção de prédios de 12 andares no Campeche, de até seis na Lagoa da Conceição. "Já temos problemas na infraestrutura e tem vários pontos impróprios para banho", reclama Aurélio Tertuliano de Oliveira, ex-presidente da Associação dos Moradores da Lagoa da Conceição e que conhece muito bem o lugar onde sempre viveu.


Há um pesado jogo de interesses que envolve empresários da construção civil, corretores de imóveis, do setor turístico, administradores do município, todos muito mais interessados nos lucros imediatos do que na preservação e proteção deste belo pedaço de terra. Em 2030 a previsão é de que Florianópolis terá 750 mil habitantes. Como será essa cidade no futuro? Não será, com certeza, como àquela que um dia escolhi pra morar. Nestes últimos anos Florianópolis sofreu drástica transformação e os problemas de infraestrutura, transporte urbano, trânsito, segurança, são imensos. Serão eles sanáveis?


Temo por nossa cidade. O novo Plano Diretor que seria uma solução, virou uma grande ameaça. As divergências entre as comunidades que fizeram suas propostas e o projeto apresentado pela Fundação Cepa, empresa contratada pela prefeitura, são imensas. Há um desafio pela frente: o momento, portanto, é de protestar. Não consigo admitir que a bela Florianópolis se transforme num amontoado de prédios, com praias poluídas por coliformes fecais, meio ambiente tão agredido e fique igual à tantas outras cidades deste país hoje inabitáveis.


A ponte Hercílio Luz que atravessei quando aqui cheguei, lá está. Vejo-a todos os dias da minha janela. Continuo apaixonada pela cidade que escolhi viver e temo por seu futuro. Mas não posso deixar de dizer: parabéns Florianópolis. Eu te amo.

terça-feira, 16 de março de 2010

A CIDADE AMEAÇADA

foto: elaine borges

Durante três anos a população de Florianópolis se reuniu para discutir o Plano Diretor. Foram longas discussões, elaboração de projetos, esudos detalhados de como ocupar espaços respeitando suas diversidades, o meio ambiente, as áreas de preservação, o patrimônio cultural e, principalmente, com total zelo para que a população de Florianópolis, aprovado o Plano, vivesse em uma cidade bem planejada e organizada. Na prática, não é isso que está acontecendo. O prefeito de Florianópolis, Dario Berger, decidiu contratar uma fundação para fazer o plano, ignorando o que os moradores da cidade tinham planejado. A jornalista Elaine Tavares escreveu em seu blog um longo artigo (Um Plano Para Florianópolis) sobre o que está acontecendo. Abaixo transcrevo trechos do texto (*), com o qual concordo plenamente. Há que reagir. Nossa cidade, tão bonita e que ainda suscita tanta admiração, não pode ficar nas mãos de especuladores e de empresários que apenas visam o lucro imediato.


(*)Por conta de todos os problemas causados pela ocupação desordenada da ilha, somado ao turismo predador, as comunidades vivem em pé de guerra com o poder público, porque, como é sabido, os governantes, no mais das vezes, não estão nem aí para as gentes. Eles governam para um grupo específico de pessoas “os ricos” e a maioria da população precisa ganhar na luta aquilo que é seu direito. Agora, neste ano de 2010, uma batalha de titãs está para ser travada: é a do Plano Diretor, construído durante três anos pelas comunidades organizadas. Nele, a população exige, entre vários pontos, o fim da verticalização da ilha, o respeito ao ambiente natural e a melhoria da mobilidade urbana. Mas, a prefeitura, depois de incentivar a participação de todos, contratou uma empresa/fundação de fora da cidade que será a responsável pelo desenho do Plano Diretor. Isso gerou revolta entre as gentes que prometem fazer barulho se a proposta feita por elas não for acatada.


(*) A última ação da prefeitura, por exemplo, foi reunir na FIESC (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina) um grupo de pessoas que nunca participou do processo do plano diretor, mas que foi convidada a dar palpites no último minuto do “segundo tempo”. Segundo Ataíde Silva, da Associação dos Moradores do Campeche, era uma multidão de corretores de imóveis, especuladores e outros tipos jamais vistos no processo participativo e que certamente serão os que terão mais poder no fechamento do projeto final.


(*) E foi justamente nestas duas reuniões que a CEPA (fundação contratada para fazer o plano) apresentou a proposta que choca com quase tudo o que as comunidades discutiram. No plano da empresa, apresentado inclusive em encarte no jornal de maior distribuição na cidade, a proposta principal é crescer. Ou seja, completamente na contramão das propostas atuais de organização urbana, que criticam o verticalismo e o crescimento exacerbado. Além disso, divide a cidade em zonas metropolitanas, de multicentralidade (que significa grande densidade populacional) e de patrimônio cultural (poucas comunidades no sul, na lagoa e no norte). Nas duas primeiras tudo está permitido em nome do progresso e nas culturais, alguma coisa pode se salvar.


(*) Para as comunidades que se debruçaram sobre o Plano Diretor durante três anos seguidos esta proposta da prefeitura é farsesca e ilegal. E, sendo assim, a única resposta deve ser a luta. Se a empresa contratada está apresentando apenas uma proposta de macro zoneamento, as comunidades já definiram o micro e o macro. Ou seja, como vai ser o sistema viário de cada lugar, que ruas devem ser criadas, como tem de ser as construções, quantos andares, que áreas precisam ser preservadas. As gentes que aqui vivem desde sempre sabem muito bem onde tem alagamento, onde verte a água, onde a chuva prejudica. O povo sabe do lugar onde está. E não vai permitir que sua palavra seja negada.


(*) A cidade de Florianópolis é conhecida como um lugar mágico, de belezas inacreditáveis e a idéia dos empreiteiros é transformar o lugar num monstro de concreto. Mas, a população já decidiu que não quer isso. Pelo contrário, quer preservar o que tem de mais belo que é a natureza. Se, para isso for necessário sair da roda viva do progresso sem limite, muita gente está disposta a aceitar. O povo quer segurança, vida saudável, tranqüilidade e beleza. Pelo menos no Campeche isso já é decisão comunitária. E em outros lugares também, o que torna a proposta da prefeitura uma aposta na minoria rica que mal vive a cidade.


(*) Mas, como a população da capital já viu escaparem os mega empresários que falsificaram licenças ambientais no que ficou conhecido como Operação Moeda Verde, levada a cabo pela Polícia Federal, as barbas estão de molho. Porque boa parte destas figuras está por trás dos planos da prefeitura. Eles estão pouco se lixando para a natureza ou para a segurança ambiental das pessoas. Querem lucros e nada mais. São os mesmos que privatizam os costões, os aqüíferos, que destroem a paisagem e erguem espigões. Alguns acabam tornado-se inúteis como os da Praia Brava, que era um dos lugares mais lindos da ilha e hoje é uma nesga de concreto. Foram tantos prédios numa destruição tão brutal daquele espaço que nada restou da beleza que havia. Já ninguém mais quer morar lá.

sexta-feira, 12 de março de 2010

TUDO AZUL CÁ NA ILHA

Beira Mar Norte ( fotos: elaine borges)

Tudo azul cá em Florianópolis nesta tarde de verão.

MULHERES DA TERRA

(Reprodução)

Começa amanhã a apresentação do documentário Mulheres da Terra, produção da Plural Filmes. O documentário vai ao ar ao meio dia, na RBS TV, e às 13h45, na TV COM, no programa Santa Catarina em Cena. No próximo sábado (dia 20) será apresentada a segunda parte, nos mesmos horários. O documentário conta "a relação íntima das mulheres com a terra e com as sementes "crioulas" (sementes que não sofreram modificações genéticas cujo manejo foi desenvolvido por comunidades tradicionais indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caboclos, etc.). São depoimentos e vivências de mulheres camponesas moradoras do interior dos municípios de Marema, Mondaí, São Miguel do Oeste, Chapecó, Anchieta e Palmitos, todas integrantes do Movimento de Mulheres Camponesas de Santa Catarina, integrantes do Projeto de Produção, Recuperação e Melhoramentos de Sementes Crioulas.

Ficha técnica:Direção: Marcia Paraiso/Pesquisa: Marcia Paraiso e Adriane Canan/Diretora Assistente: Adriane Canan/Fotografia: Anderson Capuano/Ass. Fotografia: Kike Kreuger/Som: Guilherme “Grilo” Britto/Coordenação de Produção: Will Martins/Edição e Finalização: Bernardo Garcia/Produção: Plural Filmes e RBS TV.

terça-feira, 9 de março de 2010

CICLONE, VENTOS, RESSACA...


Ponte Hercílio Luz - (fotos: elaine borges )

No final da tarde, o céu ficou encoberto em Florianópolis e, em seguida, veio a chuva, com fortes ventos. Cerca de meia hora depois, o tempo melhorou. Nos últimos dias têm sido assim: muita chuva, ventos, trovoadas, mar revolto... Segundo os meteorologistas, um ciclone extra-tropical está sobre o Oceano Atlântico, entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e ondas acima de três metros fustigam as praias da Grande Florianópolis. Por isso, a Defesa Civil alerta: devido a ressaca, os pescadores não devem sair para o alto mar até quinta-feira.

Como se vê, o tempo e suas variáveis passou a ser assunto na mídia. Há pequenos tremores de terra no nordeste do país, chuvas intensas no Rio, ciclone no sul, terremoto no Chile, tornado nos Estados Unidos... E as consequências de tanta mudança climática são quase sempre lamentáveis: pessoas soterradas devido aos deslizamentos dos morros, enchentes, cidades semi-destruídas... Alguém já disse que, no futuro não muito distante, a mídia em geral vai ter que criar editorias especializadas em abordar assuntos ligados ao tempo, envolvendo aí questões ligadas à ecologia, urbanismo (ocupação desordenada do solo), agricultura... Se antes falávamos sobre o tempo apenas para puxar assunto, hoje fala-se com um misto de preocupação: mudanças climáticas às vezes significam ocorrência de enchentes, nevascas, vendavais, ou seja, quedas de pontes, de casas, estradas interditadas, e, o pior, quase sempre com vítimas fatais.

domingo, 7 de março de 2010

NA PRAIA, APESAR DO TEMPO

Lagoa da Conceição - fotos: elaine borges

Céu nublado, tempo instável com previsão de mais chuvas no início da semana. Mesmo assim, várias pessoas curtiram a praia na Lagoa da Conceição nesta tarde de domingo.

quarta-feira, 3 de março de 2010

UM TORDO AVISOU QUE É MARÇO

Pingos na janela - (foto: elaine borges)

Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada

Manoel de Barros - do livro "O Guardador de Águas"
(Ed. Civilização Brasileira)


III


Chove torto no vão das árvores.

Chove nos pássaros e nas pedras.

O rio ficou de pé e me olha pelos vidros.

Alcanço com as mãos o cheiro dos telhados.

Crianças fugindo das águas

Se esconderam na casa.


Baratas passeiam nas formas de bolo...

A casa tem um dono em letras.

Agora ele está pensando -

no silêncio líquido

com que as águas escurecem as pedras...

Um tordo avisou que é março.

segunda-feira, 1 de março de 2010

BALANÇO DA SEMANA


fotos: elaine borges

Durante algumas horas, nas últimas duas semanas, vimos - a Baby e eu - através de programas esportivos na televisão, atletas esquiando em alta velocidade nas montanhas brancas de neve de Vancouver, no Canadá; vimos suaves movimentos de corpos pairando no ar; vimos saltos extraordinários; achamos lindo ver casais dançando harmoniosamente nas pistas de gelo ao som de músicas que complementavam o espetáculo; vimos jogos como hóquei, com torcidas alucinadas; vimos também uma multidão torcendo por seus atletas que, na pista de gelo, "varriam" o chão bem próximo à pedras achatadas para que atingissem seu alvo... Tudo o que vimos tinha como cenário um conjunto de montanhas cobertas de neve, ginásios com pistas de gelo, gente com casacos, luvas, mantas... Era a 21ª Olimpíadas de Inverno, em Vancouver, que terminou ontem. Foram cenas lindas, bonitas de ver. Um belo espetáculo esportivo. As cenas eram tão bonitas que até minha gatinha permaneceu ali, ao meu lado, vendo a televisão. E diante de tanta organização, percebível até nas transmissões dos jogos, lembramos que nós, cá no Brasil, vamos sediar as Olimpíadas (no Rio), e a Copa do Mundo (em vários Estados). A dúvida é: teremos capacidade, competência, para organizar competições esportivas tão complexas como as Olimpíadas e a Copa do Mundo?

No balanço da semana, uma triste notícia: a tragédia no Chile em consequência do terremoto (de 8.8 de grandeza que vai até 10) ocorrido na madrugada de sábado. Há mais de 700 mortos e a previsão é que o número de vítimas fatais deve aumentar. Inúmeras casas destruídas, gente dormindo nas ruas, cidades semi-destruídas, ameaça de falta de água, de alimentos... Embora a região tenha um planejamento estrutural por estar em área sujeita à ocorrência de terremotos, não há como evitar tanta devastação, mortes, destruição. Que aumentou com o tsunami, com ondas de mais de 10 metros de altura, ocorrido no litoral do Chile, o que elevará ainda mais o número de mortes.

Se na semana que passou, vimos demonstrações de força, de beleza, de domínio dos corpos de inúmeros atletas que participaram das Olimpíadas, vimos também que nós, humanos, somos frágeis. Uma fragilidade que, como descreveu uma brasileira que estava em Santiago do Chile na madrugada do terremoto, "nos fez sentir um objeto balançando entre as paredes de um prédio como se estivéssemos dentro de uma máquina de lavar roupa".

E, diante de tanta tragédia, a Baby hoje preferiu ficar em um dos seus cantinhos prediletos.