domingo, 31 de maio de 2009

COPA DO MUNDO: MAIS UMA DERROTA


Fotos: elaine borges

Mesmo sabendo que Florianópolis estava fora da lista das 12 cidades que serão sede da Copa do Mundo de 2014, ficamos, minha gatinha e eu, vendo a televisão e o anuncio, pela FIFA, das cidades escolhidas. Sentimos uma estranha sensação de derrota com o que já sabíamos. Mas aí, caímos na real. Florianópolis tem um péssimo transporte coletivo, o caos urbano transforma nossa vida em um inverno diário. Há falta de táxis. Quando chove, piora tudo. E o aeroporto Hercílio Luz, que há horas já deveria ser internacional, é aquela deficiência eterna. Não merecíamos mesmo sediar a Copa. Não temos infra-estrutura por culpa de péssimos admistradores. De novo, estamos entre duas cidades escolhidas: Curitiba e Porto Alegre. Lembrei de quando não existia a BR-101 e nada acontecia por aqui devido ao péssimo acesso à Ilha. Perdemos memoráveis espetáculos teatrais, shows, cantores internacionais se apresentavam em Porto Alegre e nunca aqui. Como um sanduiche, éramos o miolo, o meio... Agora, veio novamente essa sensação. Continuamos perdendo grandes momentos. Vejo a programação cultural de Curitiba e morro de inveja. O mesmo ocorre quando leio os jornais de Porto Alegre e constato que há grandes exposições acontecendo por lá, sem que nunca as vejamos. Voltou aquela sensação de que moramos num lugar pobre em promoções as mais diversas, embora rico (e aí somos imbatíveis) em beleza natural. E reside aí, na nossa beleza, nas maravilhas da nossa Ilha (costões, ilhas, mar, lagos, morros, baías...) o grande prazer de aqui morar.

Mas continuamos perdendo. Agora foi a não escolha da cidade para ser sede de um dos jogos da Copa do Mundo. Outras perdas virão. E há ainda o grande perigo: querem vender nossas belezas para grandes empreendimentos imobiliários sem atentar para a fragilidade de nosso ecossistema.

Hoje, minha pequena Bibi olhou rapidamente o noticiário, constatou o já sabido e foi fazer o que mais gosta: curtir sua eterna soneca do dia inteiro. Ela dorme o sono dos anjinhos que também a protegem. Prefere ficar no seu mundo sabendo que o nosso, de duas patas, está muito complicado. E decepcionante. Nossas alegrias estão escasseando. E também a esperança de que um dia nossa ainda bela Ilha receba o tratamento adequado que tanto merece. Enquanto for tratada como "cosa nostra", nós, pobres mortais da planície, continuaremos perdendo.

sábado, 30 de maio de 2009

UM CANTINHO ESPECIAL


Fotos: elaine borges


Mesmo com chuva e um friozinho gostoso é muito bom curtir com amigos este cantinho, a Santo Antonio Spaghetteria Caffé. E ainda descobrir delicados objetos, pinturas, tapetes, desenhos e tantos outras preciosidades na Casa Açoriana Artes e Tramóias Ilhoas ali ao lado. De lá trouxe hoje essa delicada peça, a galinha e seus pintinhos, que já enfeitam a parede da minha sala.

(Endereço: Rua Cônego Serpa 30, Santo Antonio de Lisboa - ao lado da Igreja).

FRIOZINHO DO OUTONO


Foto: elaine borges


No jogo político, nós, pobres mortais, pouco influímos. Mas aguentar a euforia dos meios de comunicação com a não cassação do governador Luís Henrique da Silveira foi demais. "Espetacular. Grande vitória. Um marco na história política de Santa Catarina." Foi assim, com frases grandieloquentes que foi noticiada a não cassação do cargo do governador por votação no TSE. Foguetórios também foram espoucados aqui e ali, em comemoração ao "grande acontecimento". Confesso: fiquei abismada com tanta euforia. E fiquei mais convencida que vivemos em dois mundos: o da política e o dos demais, dos brasileiros que lutam no dia-a-dia pela sobrevivência. O senador José Sarney recebia auxílio moradia e não sabia? Caia mais de tres mil reais na sua conta, mensalmente, e ele não percebeu? Por isso digo: o mundo deles é outro. Diferente do nosso. Lá há falcatruas. Cá embaixo há uma briga diária para continuar a vida.

E neste sábado, com os termômetros marcando 16 graus, melhor não prestar atenção no mundo que não é o nosso e tentar usufruir o que temos: a beleza da Ilha, a bela ponte Hercílio Luz e sentir na pele o friozinho do outono.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

DESMATAMENTO EM SC

Foto: elaine borges

Entre 2005 e 2008 a Mata Atlântica teve 102,9 mil hectares derrubados. Em média, foram desmatados 34,1 mil hectares por ano, área que corresponde a dois terços da cidade de São Paulo. Os dados foram divulgados ontem pela fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Tres estados brasileiros figuram como os que mais desmataram nesse período e Santa Catarina ocupa um vergonhoso segundo lugar. Em primeiro lugar destaca-se Minas Gerais (32,7 mil hectares de mata derrubados) e em terceiro a Bahia (24, 1 mil hectares). Em todos o território catarinense foram derrubados 25,9 mil hectares. Segundo o levantamento, o país tem apenas 11,4% de cobertura vegetal original, ou seja, apenas 147 mil quilômetros quadrados de mata atlântica, espalhados por todo o território brasileiro e de forma fraguimentada.
Ao divulgar os números, Mario Mantovani ( Agencia Estado de ontem), diretor da Fundação SOS Mata Atlântica, disse que “o caso de Santa Catarina é de desobediência civill. Políticos e dirigentes promoveram toda sorte de maldades contra a mata, culminando com um código ambiental estadual inconstitucional.”
Mantovani referia-se a aprovação, pela Assembléia Legislativa, do Código Estadual do Meio Ambiente - em 31 de março e em seguida sancionado pelo governador Luis Henrique da Silveira. De acordo com o Código, a proteção às matas ciliares às margens dos rios caiu de 30 para 5 metros, e nas nascentes fluviais, a área de preservação diminuiu de 50 para 10 metros. O Código Estadual do Meio Ambiente foi aprovado quatro meses após a enchente de novembro último que matou 137 pessoas. Na ocasião, o professor Antonio Fernando Guerra, da Universidade do Vale do Itajaí, disse que "a tragédia só teve a dimensão que vimos por causa da ocupação nas margens dos rios e nos morros.”

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O CONFORTO INCOMPREENSÍVEL DOS GATOS

Foto: elaine borges

"O conceito que os gatos têm de conforto é absolutamente incompreensível para os homens".
(Sidonie-Gabrielle Colette - do livro Gatos (Editora Lisma - Lisboa).

O que li agora nesse belo livro é a mais pura verdade. Hoje, por exemplo, a Baby escolheu ficar um bom tempo ali, na poltrona, lugar aparentemente incomodo. Entender esses belos felinos não é fácil, mas conviver com eles é uma delícia. Às vezes a Bibi (seu apelido para os íntimos) se aproxima de mim, mia baixinho, me olha, continua miando, sempre muito baixinho, e eu nada entendo. Converso, pergunto e fica o mistério....

domingo, 24 de maio de 2009

ROMARIA DA COLETA


Fotos: elaine borges
Do tambor saia um som – bum, bum, bum – com breves interrupções. Um pequeno grupo com espécies de palas vermelhos sobre os ombros caminhavam rumo às casas. À frente, um deles levava a bandeira do Divino. O grupo com a bandeira, ao serem recebidos pelos donos das casas, coletava pequenas quantidades em dinheiro. Era a contribuição para a Festa do Divino, sempre realizada após a Páscoa, nos meses de maio, junho ou julho. Em retribuição, eles ganhavam pequenos pedaços das fitas que ornam a bandeira, guardadas com muita fé pelos fiéis. Antes, a romaria da coleta que precede a grande Festa do Divino, era composta por um grande grupo e os músicos tocavam rebeca, violão, tambor surdo (que permanece), gaita e até cavaquinho. Atualmente, são poucas as comunidades que mantem essa tradição. Em Florianópolis, há grupos ainda em Santo Antonio de Lisboa, Campeche e Ribeirão da Ilha. E o que vi nesta tarde na Lagoa da Conceição foi um grupo de resistentes moradores tentando manter uma tradição trazida dos Açores que, aos poucos, vai desaparecendo.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

CASA NO CAMPO

Foto: Tempo Editorial (arquivo)

Composição: Zé Rodrix e Tavito

Eu quero uma casa no campo

Onde eu possa compor muitos rocks rurais

E tenha somente a certeza

Dos amigos do peito e nada mais

Eu quero uma casa no campo

Onde eu possa ficar no tamanho da paz

E tenha somente a certeza

Dos limites do corpo e nada mais

Eu quero carneiros e cabras pastando solenes

No meu jardim

Eu quero o silêncio das línguas cansadas

Eu quero a esperança de óculos

Meu filho de cuca legal

Eu quero plantar e colher com a mão

A pimenta e o sal

Eu quero uma casa no campo

Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé

Onde eu possa plantar meus amigos

Meus discos e livros

E nada mais


Essa música me acompanhou em vários momentos de minha vida. Ouvi Elis Regina cantar Casa no Campo, comprei o LP, sempre gostei da letra, bela e singela. Pois seu autor, Zé Rodrix (com Tavito), morreu ontem à noite, em São Paulo. Ele, Sá e Guarabyra formavam um trio e criaram o então chamado rock rural. Mas o que fica mesmo do Zé Rodrix e essa música tão voltada para um tempo de busca da simplicidade. Tempo em que, para atingir a plena felicidade, bastava ter uma casa no campo onde pudéssemos "plantar os amigos, discos, livros e nada mais". Tão simples, mas tão longe...

OUTONO NA ILHA

Foto: elaine borges

Pescando no Morro das Pedras, sul da Ilha de Santa Catarina.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

SUL E NORTE: DOIS BRASIS

As imagens que vemos há mais de um mês são chocantes: inúmeras famílias com suas casas submersas, morando literalmente dentro da água. Vemos mulheres lavando roupas com água pela cintura, outras cozinhando improvisando tábuas sobre as águas, gatos nos telhados, crianças perigosamente se equilibrando nas tábuas improvisadas que servem também de frágeis pontes de ligação entre as casas... Desde abril não para de chover em nove estados do norte e nordeste. Inúmeros municípios estão debaixo d’água. E hoje o jornal O Estado de S. Paulo publicou matéria do repórter Rodrigo Brancatelli com uma triste constatação: o poder público não tem dispensado a mesma atenção àquela população como dispensou aos catarinenses atingidas pelas enchentes em novembro último.

Escreveu o repórter:

Santa Catarina teve 63 cidades afetadas, 137 mortes, 51 mil desalojados e 27 mil desabrigados. No total, a estrutura de suporte para lidar com as enchentes contou com 24 helicópteros e 4 aviões da Força Aérea. Doações da sociedade totalizaram R$ 34 milhões e o governo federal e o Congresso Nacional prometeram a liberação de R$ 360 milhões. Apesar de registrar um número menor de mortos até o momento, 45, o Nordeste tem 299 cidades afetadas, 200 mil desalojados e 114 mil desabrigados. Mesmo assim, com um número 4 vezes maior de pessoas que precisam urgentemente de ajuda, só 3 helicópteros e 3 aviões atuam na região. E as doações não alcançam R$ 4 milhões.

Só ontem (quarta), quase dois meses após o início das tempestades - que também castigam três Estados do Norte -, o governo federal destinou verba ao Nordeste, por meio de medida provisória assinada pelo presidente em exercício José Alencar, que liberou R$ 880 milhões - incluindo ajuda às vítimas da seca no Sul. As cidades atingidas ainda esperam repasse de R$ 23 milhões desde as enchentes do ano passado, referente a empenhos do Orçamento de 2007.

O sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor do estudo Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros deu a seguinte explicação ao repórter: "Em Santa Catarina, 137 mortos é chocante. No Nordeste, é histórico o problema das secas e das enchentes. Já não impressiona mais."

Mais uma vez constato: temos dois brasis. Lamentável que para o poder público as dores e tragédias das famílias que moram no norte não são as mesmas daqueles que moram no sul.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

TERMINOU A GREVE

Uma boa notícia: em assembléia geral os trabalhadores do transporte coletivo de Florianópolis decidiram encerrar a greve. Os ônibus voltarão a circular normalmente a partir das seis e meia da tarde. Mas as negociações continuam e é possível que, sem acordo, a greve seja retomada.

A GREVE CONTINUA

Foto: Hermínio Nunes

Trabalhadores do transporte coletivo - em greve desde ontem - estão em assembleia no centro de Florianópolis neste momento. Eles discutem se colocarão 50 por cento da frota na rua, como quer a justiça para atender a população, ou até mesmo a possibilidade de voltarem ao trabalho enquanto prosseguem as negociações. A cidade, por enquanto, está tranquila.
Cerca de 400 mil usuários estão sem transporte coletivo desde ontem. Prefeitura, empresas de ônibus e trabalhadores não entraram em acordo. Os trabalhadores reivindicam garantia de emprego, melhores condições de trabalho, protestam contra o aumento de tarifas, entre outros itens da pauta. A prefeitura autorizou o uso de vans e alguns veículos que fazem transporte escolar e de turismo para transportar os usuários, estipulando preços de tres a cinco reais. O problema é que vários usuários chegam a pagar de oito a dez reais de passagem, dependendo do trecho a ser percorrido.
(A foto acima é do blog do Herminio Nunes)

TRABALHANDO NAS ALTURAS

Foto: elaine borges
Da minha janela, no décimo andar, vi este operário sentado numa tábua aparentemente frágil, amarrado a uma corda, fazendo reparos no prédio em frente ao meu.

sábado, 16 de maio de 2009

LEITURAS PARA UM DIA AZUL

Foto: elaine borges

Mario Quintana - do livro "A Vaca e o Hipogrifo"(Ed. Garatuja):

Compensação

E quando o trem passa por esses ranchinhos à beira da estrada, a gente pensa que é ali que mora a felicidade.

Anotação Para Um Poema

As mãos que dizem adeus são pássaros
Que vão morrendo lentamente
.

Uns e Outros

Esses cachorros de rua, que nós aqui chamamos guaipecas e cujo pedigree é do mais puro pot-pourri, capaz de enlouquecer qualquer genealogista canino – vocês já repararam como são alegres, espertos, afetuosos? Só os de pura raça são graves e creio que tristes como os faraós egípcios, os chefes incaicos, os príncipes astecas.

Vida Social

O gato é o único que sabe manter-se com indiferença num salão.
As outras indiferenças são afetadas.

Verbetes

Infância – A vida em tecnicolor.
Velhice – A vida em preto e branco.

Poema

Oh! Aquele menininho que dizia
“Fessora, eu posso ir lá fora?”
Mas apenas ficava um momento
Bebendo o vento azul...
Agora não preciso pedir licença a ninguém
Mesmo porque não existe paisagem lá fora:
somente cimento.
O vento não mais me fareja a face como um cão amigo...
Mas o azul irreversível persiste em meus olhos.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

DE MILES A COHEN

Foto: elaine borges

A minha amiguinha de quatro patas não está muito contente com minhas opções musicais dos últimos dias. Tentei convencê-la a ouvir com paciência (o que os felinos mais cultivam) essas duas maravilhas musicais: Miles Davis – Kind of Blue e Leonard Cohen – Live in London, mas não fui bem sucedida. Ela se recolheu e ficou em um dos seus cantinhos prediletos, ao lado do computador.
Kind of Blue é um disco antológico. Há 50 anos, em apenas dois momentos, 2 de maio e 22 de abril, Miles Davis reuniu os também geniais músicos Paul Chambers, James Cobb, John Coltrane, Bill Evans, Wynton Kelly e Julian Adderley e apenas disse o que queria. O resto era com eles. Criem, inventem, improvisem, deve ter dito. E surgiu essa obra-prima: Kind of Blue. Tem apenas cinco musicas: So What, Freddie Freeloader, Blue in Green, All Blues e Flamenco Skeches. Santana definiu assim aquele momento: “Ele foi para o estúdio com uma estrutura mínima e alcançou a eternidade”. Eu confesso que das cinco, a minha preferida é All Blues. Ouço várias vezes.
Mostrei pra minha amiguinha também o maravilhoso Leonard Cohen. Bom, a suavidade de sua voz cativou mais a exigente gatinha, mas nada que a leve a ficar de olhos bem abertos. Recolhe-se ao seu mundo e lá fica. E eu fico cá no meu cantinho ouvindo esse que pode ser chamado primo de Paul Simon, irmão de Bob Dylan e de tantos outros que são também grandes poetas. Canadense, há também 50 anos Cohen tem um conjunto de musicas maravilhosas. Ouvir Suzanne faz bem a qualquer um que curte música. Seu ultimo CD foi gravado em julho do ano passado, em Londres. Estão lá: Dance Me To The End Of Love, My Secret Life, Hallelujah, So long, Marianne...
Então, é isso. Continuarei por aqui curtindo belas músicas, enquanto minha gatinha prefere permanecer dormindo, alheia ao mundo da sua amiguinha de duas patas.

Abaixo parte da letra de Suzanne:

Suzanne takes you down to her place near the river.
You can hear the boats go by,
You can spend the night beside her.
And you know she’s half crazy.
But that’s why you want to be there.
And she feeds you tea and oranges that come all the way from China.
And just when you mean to tell her that you have no love to give her
Then she gets you on her wavelength
And she lets the river answer
That you’ve always been her lover.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A ILHA ENFEITADA

Foto:elaine borges
Esta imagem da ponte Hercílio Luz tem novidades: esses pontos azulados são as colunas de apoio da ponte Colombo Salles que fica ao lado. A foto é de hoje de madrugada (2 horas). É a Ilha sendo enfeitada para bem impressionar os visitantes do polêmico Congresso Mundial de Turismo que começa hoje em Florianópolis.

terça-feira, 12 de maio de 2009

VOZES DA PONTE

Foto: elaine borges

PARECIA UM SONHO

Nossa, quando vi parecia que eu estava sonhando!
Depois da primeira emoção vim várias vezes ver
o sol se esconder, ver o mar, a ponte e todo aquele
brilho refletido na água. Há doze anos, quando
venho trabalhar, vejo o mar, a ponte, o pôr-do-sol...
Antes eu só tinha visto o mar pela televisão.
Depois que vi a ponte Hercílio Luz pela primeira vez,
gostava de passar a pé sobre ela várias vezes.
Andava pra lá e pra cá. Essa imagem sempre foi pra
mim muito forte...

Leomar Rohling tinha 18 anos quando viu o mar e a ponte Hercílio Luz pela primeira vez. Em 2002, já com 30 anos, trabalhava como garçom em um restaurante bem próximo à ponte.

UMA OBRA DE DEUS

Eu chorava tanto, tanto que meu pai, segurando minha mão, dizia:calma filha, tu não vai cair...Eu tinha onze anos e muito medo de atravessar a ponte.Lá embaixo eu via o mar, entre as tábuas, e o medo aumentava.Quando completei 21 anos nasceu meu filho, Ademir.Ele tinha dois meses e eu ia no posto de saúdebuscar leite em pó. Segurava bem ele nos meus braços e lá ia eu. Mais tarde nasceu minha filha, Arlete.De novo tinha que atravessar a ponte. Sempre com medo. A última vez que passei a pé foi para ir ao circo. Aí foi pura farra.
Passamos fazendo bagunça, eu e umas amigas. Lembro que lá na ponta ainda paramos e ficamos olhando toda aquela estrutura de ferro.
Mas meu sonho era
atravessar de bicicleta. Nunca consegui. Acho que seria bem gostoso.
A ponte é pra mim uma obra de Deus, uma guia, é a vida sendo renovada.


Martinha Luiza de Farias é manipuladora de pescados e quando deu esse depoimento fazia 24 anos que trabalhava bem ali, pertinho da ponte, no lado continental. E dizia que, antes de voltar para casa, gostava de ficar contemplando a ponte: “Me acostumei com ela, gosto de olhar”.

Entrevistei Leomar e Martinha para o livro Hercílio Luz – Uma Ponte (Tempo Editorial) publicado em dezembro de 2002.

A Ponte Hercílio Luz hoje está fazendo 83 anos. Foi inaugurada em 13 de maio de 1926. Sua estrutura de aço foi trazida dos Estados Unidos. Tem 819 metros de comprimento, as duas torres medem 75 metros e o vão central 43 metros a partir do nível do mar. Fechada em 1982, há alguns anos está em reforma.

domingo, 10 de maio de 2009

AZUL CELESTE, VERMELHO MARAVILHA

Foto:elaine borges
O céu desta tarde de domingo permaneceu assim, azul bem clarinho - daí o "azul celeste"- e lá, na Lagoa da Conceição, vi essa flores com esse vermelho maravilha e delicadas folhas.

MATER DOLOROSA

Mater Dolorosa (...)

Adélia Prado

Uma vez fizemos piqueninque,
ela fez bolas de carne
pra gente comer com pão.
Lembro a volta do rio
e nós na areia.
Era domingo,
ela estava sem fadiga
e me respondia com doçura.
Se for só isso o céu,
está perfeito.

(Oráculos..., p.47)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

SALIM MIGUEL GANHA PRÊMIO DA ABL


Salim Miguel (foto: elaine borges)


Uma boa notícia: Salim Miguel ganhou o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras (ABL). O prêmio é dado aos escritores cuja obra é considerada “expoente da literatura nacional”.
Ao saber da premiação Salim disse ao DC: “Para um escritor e jornalista, depois de uma vida inteira dedicada à leitura e à escrita, receber o maior prêmio da Academia é uma grande satisfação e uma sensação de dever cumprido”.

Confesso que é com muita emoção e alegria que registro esse acontecimento. Salim Miguel é um dos mais importantes escritores de Santa Catarina.

E se um dia alguém me perguntasse: “qual seu personagem inesquecível?” Eu diria: “Salim Miguel”. E não teria dúvidas em citar os momentos memoráveis – poucos, mas substanciosos – que passei conversando com ele tendo, ao lado, a sempre presente companheira Eglê Malheiros.
Há prazer maior do que falar em literatura? Em lembrar os grandes clássicos? Em recordar pedaços da vida e contar saborosas histórias passadas na sua longa e rica vida? Salim Miguel é assim, um grande conversador. Aquele que sabe usar as palavras. Que fala do tempo e memória – seus temas sempre recorrentes – e nos leva a percorrer seu mundo mágico – ou às vezes trágico – sempre com uma pitada de humor, de ironia, de sabedoria.
Salim é o homem da palavra. Tanto faz manuseá-la através da escrita ou oralmente. A palavra é o seu instrumento de trabalho. Por isso, não é de surpreender quando, muitas vezes, ao ouvir histórias, ele logo comente: “isso dá um conto”. Nesses mais de cinqüenta anos de vida literária foi isso exatamente o que ele fez de maneira magistral: usar a palavra, seu dom maior.
Se escrever é o seu grande dom, não é menos importante sua interferência na vida cultural nos lugares por onde passa. Generoso, gosta de dividir, de compartilhar, de incentivar, de participar de projetos onde sempre está embutido o ato de criar nas artes visuais, na literatura, na música, no teatro, no folclore, enfim na soma de tudo isso que chamamos cultura.
Seu papel na Superintendência da Fundação Franklin Cascaes (1993/1996), no governo popular de Sérgio Grando, prefeito de Florianópolis na época, foi exatamente este, de incentivador.
Salim Miguel é assim, um homem de idéias, coerente, ético. Na Fundação Franklin Cascaes entendeu o sentido da palavra popular. Todas as manifestações culturais contaram com seu apoio e incentivo. Procurou parcerias, brigou por mais verbas por entender que cultura sempre deve ser prioridade e não apenas um adendo de um governo democrático e participativo. E não foram poucas às vezes em que lutou bravamente para ampliar o percentual no orçamento do município destinado à FFC.
Escritor, jornalista, animador cultural, nada o separa de tudo que envolve o ato de criar. Com certeza foi como jornalista que burilou sua capacidade já inata de ouvir histórias, pois jornalista nada mais é do que aquele que sabe ouvir para bem contar. E foi ouvindo que Salim escreveu boas reportagens para a revista Manchete. Muitas dessas reportagens depois se transformaram em contos.
Uma vez, em Chapecó, onde foi fazer uma matéria para a revista Manchete sobre os balseiros que carregavam toras de madeira nas corredeiras do rio Uruguai, percebeu que o que via dava um conto. Surgiu então Ponto de Balsa, do livro As desquitadas de Florianópolis.
Entre seus personagens há também o cego João Mendes. Esse não saiu da sua imaginação, mas foi, com certeza, o homem que o ajudou a mergulhar no mundo do imaginário. Dono da única livraria de Biguaçu e cego, Mendes propôs ao menino Salim que lesse em voz alta para ele. A partir daí, foram incontáveis tardes de leituras, as mais variadas. Começava ali a formação literária daquele menino. Salim lembra: “Quando eu queria jogar futebol, passava próximo à livraria bem devagarzinho. Mas cego tem a audição melhor do que a nossa e dizia – ah, agora que não precisas mais de mim, foges”.
Salim dizia que, quando deixasse a Superintendência da Fundação Franklin Cascaes, voltaria ao seu mundo, o mundo da memória, do tempo, do imaginário. Queria buscar os personagens que fazem parte do seu mundo literário. Ou até personagens reais que se eternizaram em seus livros. Como o “seu” Fedoca, prefeito da sua eterna Biguaçu, cuja grande obra foi a construção de um mictório público e foi ele mesmo, o nobre prefeito, o primeiro a inaugurá-la dando uma rápida mijadinha. Ou então o Ti Adão, personagem sempre presente em seus vários contos. Ti Adão contava infindáveis histórias e Salim Miguel – também um bom ouvinte – soube memorizá-las, guardando-as eternizadas em seus diversos livros.
E se escrever é um ato extremamente solitário, não se pode separar Salim Miguel de outra manifestação cultural: o cinema. Quando ele ouve histórias logo percebe que dali pode escrever um belo conto, nós, quando lemos seus textos, logo percebemos que aquela história daria um filme. É assim, por exemplo, com o conto Ponto de Balsa, ou As Queridas Velhinhas – do livro A Morte do Tenente e Outras Mortes. Esse é o dom do grande escritor, fazer com que entremos em seu mundo dando vida aos seus personagens.
O roteiro do filme O Preço da Ilusão - primeiro longa metragem realizado em Santa Catarina – são dele e de Eglê Malheiros. E também a adaptação e roteiro de A Cartomante, de Machado de Assis, também com Eglê Malheiros e Marcos Farias.
Impossível não citar talvez um dos mais importantes momentos da cultura catarinense: o surgimento do Grupo Sul e da Revista Sul (1948/1958). O Grupo Sul desenvolveu intensas atividades culturais, montando e encenando peças teatrais, publicando livros, exposições de arte moderna...

E se, cumprida sua missão na Fundação Franklin Cascaes, Salim Miguel sonhava voltar ao seu mundo da memória, do tempo, do imaginário, o fez em grande estilo: em 1999 ganhou o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte por seu livro Nur na Escuridão (dividido com Antonio Torres com Meu Querido Canibal). Em Nur na Escuridão, Salim Miguel aborda com maestria seu tema recorrente, presente em quase toda sua extensa obra literária: memória mesclada com invenção.
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Salim Miguel receberá o prêmio, no valor de R$ 100 mil, no dia 23 de julho, no Rio de Janeiro, na sede da ABL. Onde também vai lançar Os Melhores Contos de Salim Miguel, pela editora Global.


O LUAR ATRAVÉS DA JANELA

Foto: elaine borges
O LUAR
Alberto Caeiro
O luar através dos altos ramos,
Dizem os poetas todos que ele é mais
Que o luar através dos altos ramos.
Mas para mim, que não sei o que penso,
O que o luar através dos altos ramos
É, além de ser
O luar através dos altos ramos,
É não ser mais
Que o luar através dos altos ramos.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O OUTRO LADO DA ILHA

Foto: elaine borges
Final de um dia de outono.

terça-feira, 5 de maio de 2009

MISTURA DE INTERESSES COM DINHEIRO PÚBLICO

Tem chamado a atenção a intensa propaganda na mídia da 9ª Conferência Global do World Travel & Tourism Council a ser realizado em Florianópolis nos dias 15 e 16 de maio. Uma grana sem tamanho está sendo investida nessa promoção e há visível preocupação do governo de Santa Catarina para que tudo saia conforme o previsto. Até alguns "enfeites" a cidade recebeu para impressionar os visitantes. Por exemplo: todo o caminho do aeroporto até o Santinho ( sede da conferência) recebeu iluminação especial, bem como as luminárias da ponte Hercílio Luz também foram trocadas. E ontem, o Jornal do Brasil publicou em sua página 16 (economia) um artigo do jornalista Claudio Mesquita com números que revelam o dinheiro que está sendo aplicado numa promoção de cunho privado e que pouco vai favorecer nosso estado, embora o governo insista em dizer o contrário.

Parte do artigo do JB de ontem está transcrito abaixo. O texto na integra está no blog do Cesar Valente, que aborda o assunto com detalhes.

Um evento de R$ 10 milhões

Cláudio Magnavita
JORNALISTA

Já acenderam as luzes de alerta para o dinheiro público investido na realização da 9ª Conferência Global do WTTC (World Travel & Tourism Council), em Florianópolis, nos dias 15 e 16 de maio. Trata-se de um evento privado, sem a chancela de organismos internacionais, que reunirá quatro centenas de convidados nacionais e internacionais.
Já ultrapassam em R$ 10 milhões os gastos com o evento. Serão R$ 2,5 milhões da Embratur, R$ 5 milhões do governo catarinense e mais de R$ 2 milhões do Fundo de Turismo e Cultura do Estado e da Prefeitura de Florianópolis.
O pior de tudo é o superdimensionamento do evento, que é apresentado como divisor de águas do turismo catarinense. Existe, também, a ideia de que um desses 100 CEO’s internacionais, que terão passagem relâmpago por Florianópolis, resolva investir localmente, justificando os investimentos feitos.Uma tentativa anterior dos organizadores, de vender a realização do WTTC no Brasil, foi afastada por correspondência da então ministra do Turismo, Marta Suplicy, que considerou o investimento de retorno nulo para o país.

domingo, 3 de maio de 2009

NO ACONCHEGO DO LAR E AS LEITURAS DO DIA


Fotos: elaine borges

Num dia como o de hoje, bom mesmo é ler cadernos de cultura dos jornais, a revista Piauí, alguns artigos na Internet... Já a minha amiguinha de quatro patas, se não está ao meu lado, aconchegada entre as coloridas almofadas, às vezes sacia sua sede na torneira do tanque e retorna ao seu cantinho (hoje, ela escolheu ficar entre as almofadas). Vimos, nos noticiários da TV, as alarmantes estatísticas sobre a gripe suína (agora chamada gripe A) e o medo aumenta. Se as autoridades da saúde já dizem que ela inevitavelmente chegará aqui, resta saber se o país está mesmo preparado pra evitar que se alastre de forma catastrófica.
Melhor mudar de assunto.
Entre as leituras, uma me deu imenso prazer de ler: a entrevista que a competente jornalista Lúcia Guimarães fez com o lendário jornalista americano Gay Talese publicada no Caderno 2 do Estadão. Autor de livros como A Mulher do Próximo, sobre a revolução sexual da década de 70, Frank Sinatra Está Resfriado, O Reino e o Poder, (um relato minucioso sobre o New York Times, onde ele trabalhou na década de 60) entre outros, Talese relata que leva anos para escrever um livro. Tem o hábito de carregar fichas nos bolso e ali escreve o que vê, e diz que gosta mesmo é de entrevistar pessoas desconhecidas("eu sou o historiador de pessoas que não têm história registrada em público").
"Por que nós precisamos de jornais?" pergunta Lúcia Guimarães. A resposta de Gay Talese: - " Porque no prédio de qualquer redação de um jornal respeitável, a qualquer momento, há menos mentirosos por metro quadrado do que em qualquer outro prédio. Há mentirosos nos jornais também, mas em menor número. Nos prédios do governo, nas escolas, instituições científicas, estádios de esporte, nas fábricas, a mentira circula num grau mais alto. Os jornais estão mais interessados na verdade, mesmo se cometem erros, às vezes, erros involuntários. E se você ainda quer a verdade, é mais fácil chegar a ela por intermédio de um jornal do que em qualquer outra instituição. Os jornais ainda oferecem a melhor chance de manter a verdade em circulação".
E eu fico cá com minhas dúvidas. Certo, sendo um jornal respeitável, confiamos nele. Mas há a meia verdade, informações dúbias, a versão de quem está no poder tem mais peso do que os que ficam na ante-sala do poder. Há um forte jogo de interesses entre o público (governo e afins) e o privado (empresários, banqueiros...). Não sei não, mas meu otimismo e confiança na imprensa já foram bem mais intensos.

BELO DOMINGO


Fotos: elaine borges
De manhã, um pouco antes das onze, fui à janela e dei minha habitual olhada para o lado direito e lá estava ela, a ponte Hercílio Luz, nosso lindo cartão postal. O céu todo azul, sem nuvens, mar calmo... Ao final da tarde, exatamente às 17h56 minutos, mais beleza: barcos deslizando abaixo da ponte, o sol se pondo... Tudo muito lindo nesse início de maio. E eu tentando eternizar o momento com a minha Canon.

AVAÍ CAMPEÃO!

Que festa, hein? A "Ilha Formosa" está num agito só, ouço foguetório de tudo que é canto. Muita emoção ao final do jogo, com choros e lágrimas o Avaí festeja o título de campeão catarinense de futebol. Por 6x1 derrotou o Chapecó. "Foi-se um peso de onze anos nas costas", como disse um jogador agora na CBN Diário. Cá do meu canto só escuto muita barulheira, gritos, apitaços. É a merecida festa em Florianópolis dos avaianos. Os locutores e analistas esportivos que entendem de futebol elogiam também os jogadores e a pequena torcida do Chapecó, derrotados, pela elegante reação ao final do jogo. Agora a pergunta: será que o Avaí tem time pra enfrentar as feras do Brasileiro da série A?